sábado, 12 de março de 2011

HISTÓRIA E SENTIDO DA PÁSCOA CRISTÃ


As primeiras notícias acerca da celebração anual da Páscoa cristã chegaram até nós graças a uma polêmica, envolvendo a data (ou as datas) em que a mesma era celebrada.


14 de Nisã

Segundo um costume, que parece remontar a João Evangelista, a Igreja da Ásia Menor celebrava a Páscoa no 14 de Nisã, dia da morte de Cristo, conforme o calendário judaico (Levítico 23, 5-15). É o que se chamou de “controvérsia quartodecimana”. Contudo, de acordo com uma tradição apostólica, provavelmente vinculada a Pedro, a maior parte das igrejas, entre as quais as de Alexandria, Jerusalém e Roma, celebrava a Páscoa no domingo, depois do 14 de Nisã.


Em meio a tudo isso, teve lugar a chamada “questão pascal”. O dilema era se a Páscoa devia ser celebrada no dia da morte, ou no dia da ressurreição do Senhor. A diversidade de datas da celebração pascal gerou vários atritos dentro dos quadros eclesiásticos, a ponto do papa Vítor (189-199) anunciar a ruptura da Igreja romana com as comunidades que celebravam a Páscoa no 14 de Nisã. Tal ruptura foi evitada, graças à intervenção de alguns bispos, entre eles Irineu de Lion, que afirmavam que a diversidade de datas não afetava o substancial da fé cristã.


Fixação da data

O problema começa a se resolver de forma definitiva no ano 325, quando o Concílio de Niceia, estabeleceu a unidade em torno da festa da Páscoa. Porém, só no século XVI – com o advento do calendário gregoriano – as dificuldades de se precisar a data da celebração foram amenizadas. A data foi fixada no primeiro domingo após a primeira Lua Cheia de Primavera, no Hemisfério Norte, ou no primeiro domingo depois da primeira Lua Cheia de Outono, no Hemisfério Sul, o que faz da Páscoa uma das festas móveis da Igreja, ou seja, sem data fixa.


Significado

Nos textos antigos, a Páscoa – Pessach (em hebraico), passagem da morte para a vida, da escravidão para a liberdade, das trevas para a luz – aparece como síntese de toda História da Salvação, desde a Criação até a Parusia. O centro dessa História é, efetivamente, o Cristo Salvador. Ele é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim – “Princípio inenarrável e fim incompreensível”.

Com efeito, é a Páscoa de Cristo que dá sentido ao cristianismo. Ela é o ponto de partida e de chegada da fé cristã e o centro de toda atividade da Igreja. Como referência absoluta da ação salvífica de Deus em favor dos seus filhos e filhas, a Páscoa é a razão maior da nossa fé e da nossa esperança na ressurreição dos mortos.

Símbolos pascais

Acredita-se que alguns símbolos pascais, principalmente os ovos coloridos e o coelhinho da Páscoa, sejam resquícios das festividades de primavera, em honra de Eostre, deusa da fertilidade na mitologia anglo-saxônica, posteriormente assimiladas pelo cristianismo.

Ovo e ovos de chocolate

A existência da vida está ligada ao ovo, que simboliza o nascimento e a ressurreição de Cristo. Nos primórdios, era costume presentear as pessoas, por ocasião da Páscoa, com ovos enfeitados e coloridos.

Cacau, cujo nome em grego é Teobroma Cacau, significa “néctar dos deuses”. Ao transformar-se em ovo, o cacau, ou chocolate, representa, com maior intensamente, a força e o renascimento da vida.


Coelhinho da Páscoa


Os coelhos surgiram como símbolos da Páscoa por representarem a fecundidade constante da vida. Por serem animais com capacidade de gerar grandes ninhadas, sua imagem simboliza a capacidade da Igreja de produzir novos discípulos.


Pão e o Vinho


O pão e o vinho eram a comida e bebida mais comuns. Na Santa Ceia Jesus escolheu o pão e o vinho para externar seu amor e sua entrega. Ele se serviu desses alimentos para simbolizar sua presença na Eucaristia. Pão e vinho simbolizam o corpo e sangue de Jesus.

Círio


O Círio Pascal é a grande vela que se acende por ocasião do Sábado Santo, ou Sábado de Aleluia. Quer dizer: “Cristo, a luz dos povos”. Alfa e Ômega nela gravadas querem dizer: “Deus é o princípio e o fim de tudo”.

Da abstinência de carne em dias da quaresma

A prática da abstinência de carne vermelha principalmente nas quartas e sextas-feiras da quaresma se acentuou durante a idade média, numa época em que este alimento era considerado uma preciosidade. Como penitência, os cristãos eram aconselhados a abster-se de um alimento caro, de difícil acesso, optando por outro mais barato e mais acessível, principalmente aos pobres, no caso, o peixe. Hoje equivaleria, mais ou menos, renunciar um bom vinho, um bom wisk, ou um belo dia de sol numa praia do Nordeste. Ou, quem sabe, abrir mão daquele ensopado de bacalhau que, com certeza, não resultaria tão barato.


José Gonçalves do Nascimento

Bacharel em Teologia pela Pontificia Università Urbaniana de Propaganda Fidei – Roma - Itália