No Brasil, de 1964 para cá, a cada ano, sempre durante a quaresma, a igreja tem realizado a chamada Campanha da Fraternidade. Esse gesto tem feito com que a sociedade olhe mais de perto e com maior seriedade para aqueles problemas que tanto a afligem.
A Campanha da Fraternidade procura encarar a problemática social a partir da fé no Cristo crucificado e ressuscitado e, à luz dessa mesma fé, esforça-se por apresentar as devidas soluções.
Como vemos, o seu objetivo não é resolver os problemas da sociedade, mas despertar a nossa consciência, na qualidade de cristãos e cidadãos que somos, a fim de que nos interessemos pela realidade que está ao nosso redor e dela tomemos parte, procurando transformá-la.
Neste ano do Jubileu do nosso Salvador, a Campanha da Fraternidade ganhará um caráter ecumênico. Isto significa que ela não será obra apenas da Igreja Católica, mas fruto do diálogo e do esforço comum de outras igrejas cristãs.
Trata-se, então, do trabalho conjunto de homens e mulheres que, movidos pela mesma fé, descobrem que apesar das diferenças, existe algo muito maior que nos une: o ideal cristão.
A Campanha da Fraternidade 2000-ecumênica traz como tema Dignidade Humana e Paz e como lema Novo Milênio sem exclusões.
À diferença dos anos anteriores, em que cada campanha abordava uma única questão social, a Campanha da Fraternidade deste ano resolveu lançar seu olhar sobre toda a grande problemática que envolve a sociedade brasileira.
O texto-base, que serve de subsídio para os agentes de pastoral, apresenta o conteúdo da campanha em três momentos diferentes: o primeiro trata da dignidade ferida nos porões da vida. Aqui são abordadas aquelas situações-limites de que a própria sociedade se envergonha e se escandaliza. Por exemplo, o tráfico de crianças, o trabalho escravo, a prostituição, etc. No segundo momento, o texto fala da dignidade ferida à luz do sol. Aí se trata das situações com as quais a sociedade convive naturalmente sem chegar a escandalizar-se. É o caso do desrespeito à dignidade do índio, do negro, e da mulher. Por último o texto enfatiza os bastidores, ou seja, o porquê de tudo isso. E termina convidando a todos para a promoção da dignidade humana e da paz.
Nos 2000 anos do nascimento do nosso Mestre e Senhor e dos 500 anos de história do nosso país, nada mais justo do que realmente unir nossas forças e, irmanados em torno do único Evangelho de Jesus Cristo, procurar construir uma sociedade nova onde de fato reinem o amor, a justiça, a dignidade e a paz.
Pe. José Gonçalves
Casas Populares
Senhor do Bonfim – Bahia
Nota: publicado, originalmente, no jornal “A Voz da Tapera”, Senhor do Bonfim – Bahia - abril de 2000.