segunda-feira, 30 de novembro de 2009

EUCLIDES DA CUNHA: O POETA DOS SERTÕES


2009 é o ano em que o Brasil lembra os 100 anos da morte de Euclides da Cunha, uma das mais vigorosas inteligências da história do pensamento brasileiro.



Nascido em Cantagalo, Rio de Janeiro, em 1866, Euclides da Cunha formou-se como engenheiro pela Escola Superior de Guerra. Em 1897 esteve no sertão da Bahia onde, a serviço do Jornal O Estado de São Paulo, cobriu a Guerra de Canudos. Em 1902, lançou
Os Sertões – Campanha de Canudos, obra em que aborda de forma brilhante, a luta entre as forças do Exército e os adeptos de Antonio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro. No ano seguinte, já consagrado como escritor, foi eleito para uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Em 1904, a convite do Barão do Rio Branco, viajou ao Alto Purus, região amazônica, como chefe de uma missão demarcadora de fronteiras. Morreu no dia 15 de agosto de 1909, em duelo com Dilermando de Assis, amante de sua esposa, Ana, filha do general republicano Sólon Ribeiro.



Euclides da Cunha foi responsável, entre outras coisas, pela descoberta de um Brasil que até então era desconhecido: o Brasil do interior. Ele fez isso motivado pela convicção de que a construção da identidade nacional teria, de maneira inevitável, que buscar seus fundamentos na profundidade do Brasil interiorano.


Dedicado, como ninguém, ao estudo das questões brasileiras, conforme pontifica Olímpio de Souza Andrade, o escritor valeu-se “da ciência para examinar sob vários aspectos a conformação do território brasileiro, seus ares, suas águas, sua flora, sua fauna, bem como a evolução do povo brasileiro, ressaltando conflitos entre estágios diversos de civilização. Mas principalmente valeu-se disso tudo, com engenho e arte, assim vendo o que os outros não viam, e dizendo-o numa linguagem clara e precisa, de rara beleza".



Esta é a tônica de toda produção literária de Euclides da Cunha, sendo que
Os Sertões é a obra que melhor encarna a preocupação do autor. Dividido em três partes, a saber, a Terra, o Homem e a Luta, o livro faz ampla e profunda abordagem acerca da geografia do Nordeste e dos tipos humanos que povoam essa parte do Brasil, culminando com o conflito entre as forças legais e a gente de Antonio Conselheiro.



Como homem de ciência, sintonizado com o que havia de mais avançado no âmbito da intelectualidade, e imbuído dos ideais do positivismo, além de intransigente defensor da causa brasileira, Euclides da Cunha foi firme e enérgico na defesa das suas convicções mais profundas. Terminou se decepcionando com a República – regime que ele tanto defendeu – quando percebeu que esta não estava conseguindo responder à expectativa do povo brasileiro. E, decepcionado, acabou se transformando em crítico ferrenho do modelo político inaugurado por Deodoro da Fonseca.



José Gonçalves do Nascimento
(Membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim - Bahia)

sábado, 28 de novembro de 2009

BRASIL COM C


O C. Isto mesmo, o C.

O C Caminha Com o Brasil

desde os tempos da Conquista.

Confira-se:

Quem Comandou a Conquista

foi Cabral,

Quem Compôs a Célebre Carta

foi Caminha,

Quem Capitaneou a Colônia Brasil

foi a Coroa, a do Camões.

Caramba!

Convém ReCordar outros Cs:

os Cs Contestadores:

Conjurações, Confederações,

Contestado, Cabanos, Caldeirão,

Canudos, Cangaço,

Conselheiro, padre Cícero, frei Caneca, Corisco,

Carlos (Prestes) Carlos (Mariguela), Carlos (Lamarca).

Cáspita!

Há Cs, Contudo, que em nada Contribuíram

para a Condução Correta do Brasil.

Citemos os mais Conhecidos: Camilo Castelo (Branco),

Costa (e Silva) da mesma Corja;

Cólor, Cézar (PC), Cardoso (FHC)

Cardoso (Zélia), Carlos (ACM).

Cruz Credo!

A Ciranda Continua:

Com C, também se escreve Chacina.

É o Caso de Candelária, Carandiru,

Corumbiara, Caruaru, Carajás.

Cristo!

Com C se escreve também Corrupção,

Crise, Colapso, Capitalismo,

Contraste, Catástrofe, Carência.

Com C também se escreve Brasil,

Brasil de Cidadania.

José Gonçalves Nascimento

(Publicado, originalmente, no jornal o CAC de Monte Santo, setembro de 1996)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A REALIDADE DO NORDESTE - A seca não é a única responsável pelos problemas da região


Aprendeu-se a ter o Nordeste como sinônimo de miséria e atraso. Os que assim pensam, logo apontam a causa do problema: a seca. Dessa forma, acredita-se que toda desgraça da região é decorrente da falta de chuva. De fato, o Nordeste tem sido há séculos, palco de grandes e inúmeras estiagens catastróficas. Não se pode falar do Nordeste omitindo essa realidade histórica.


Com efeito, cada seca é, para o nordestino, uma experiência de sofrimento e inquietação. Nas circunstâncias políticas e sociais em que se encontra a região, não podemos ignorar o fato de que a seca realmente leva o homem à miséria. Mas, será que a seca é a única responsável pelo problema do Nordeste? Tendo em vista que este é um fator climático peculiar a essa região, por que ainda não se tomaram medidas que fossem capazes de conter a sua força destruidora? A verdade é que a seca interessa a alguém. Daí a necessidade de mantê-la. Há aqueles que securlamente tiram proveito da seca, engrossando suas fortunas em detrimento do bem comum. São os donos do poder político e fundiário. Os mantenedores de um sistema que consegue elevar-se às custa da miséria do povo.


No Nordeste, os números da miséria assumem proporções realmente trágicas. As estiagens que com freqüência se abatem sobre a região pioram ainda mais esse quadro. Falar da miséria do nordestino significa falar de fome, sede, falta de terra e teto, desemprego, analfabetismo, doenças... São essas as mazelas do Nordeste. A fome é um dado real que mata. E mata sutilmente, sem poupar ninguém. Morrem crianças e também adultos. Basta dizer que 66% dos nordestinos são desnutridos. Uma das consequencias dessa carência alimentar é o fenômeno “homem pigmeu”. O homem do Nordeste tem uma estatura cada vez mais reduzida. Para se ter uma ideia, uma criança nordestina de 5 anos mede pouco mais de 90 cm. Em São Paulo, nessa mesma idade, a criança mede 115 cm. O fato é que o nordestino nasce e se desenvolve dentro de um quadro de miséria absoluta. É muito comum ver, na região, bebês sendo alimentados com água e açúcar, para não falar das substâncias ainda mais pobres.


Em Juazeiro da Bahia, recentemente, chegou-se ao extremo de uma mãe ter que fazer “sopa de papelão” para os filhos que, chorando, pediam comida. “Não há coisa pior do que ver um filho chorar de fome até dormir e não ter nada para oferecer-lhe” declarou essa mãe ao jornal “ A Tarde”, de Salvador. Esse dado é apenas o retrato de uma situação real de milhões de nordestinos. É apenas um dos números da miséria.


Renda per capita indica miséria absoluta


A renda per capita do nordestino é de 25 dólares por ano. Para a Organização de Alimentação e Agricultura (FAO), renda abaixo de 30 dólares indica miséria absoluta. Mas, nem todos perdem com a miséria. Há quem dela se beneficie. É em cima da miséria do povo que se estrutura no Nordeste o sistema político e econômico.


Não se pode culpar a seca como a única responsável pelo problema no Nordeste. Vale considerar que o Maranhão chuvoso é ainda mais miserável do que o Ceará seco. O homem da Zona da Mata é ainda mais pobre que o sertanejo do semi-árido. A seca é, portanto, apenas um fator agravante utilizado pelo sistema dominante para justificar a miséria. Popularmente já se diz que “o problema do Nordeste não é a seca, mas a cerca”. Cerca não só no sentido fundiário, mas também no sentido político e econômico.


Reforma Agrária


De fato, o grande fator responsável pela miséria do Nordeste é a concentração de terras, riquezas e, consequentemente, de poder. A maior parte das terras da região é controlada por políticos e empresários. Assim, privado da terra e de outras fontes de renda, o homem só tem a sofrer. Faltando-lhe esses recursos, evidentemente lhe faltarão a casa, o emprego, o pão, a saúde e até mesmo a dignidade. Os serviços do Estado deixam de beneficiar a comunidade para favorecer políticos e fazendeiros. Enquanto milhares de nordestinos são afetados pela seca, o deputado Inocêncio de Oliveira, e tantos outros, têm as suas propriedades abastecidas pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS). Fundando em 1909, o DNOCS perfurou até hoje ( 1993) 25 mil poços artesianos. Destes, 18 mil foram destinados a particulares. Dos 800 açudes construídos, apenas 300 pertencem à coletividade.


Já que o problema do Nordeste decorre, sobretudo, da concentração de terras, a saída esta na reforma agrária. O Nordeste precisa de uma reforma agrária que não pare apenas num mero loteamento de terras, mas que partindo daí avance no campo da produção e no campo social. O homem precisa de terras e de condições para explorá-las. Para tanto, é necessário que o Estado tenha interesse em investir. O Nordeste é viável. O que falta é vontade política da parte dos governantes, no sentido de solucionar os problemas da região e torná-la mais próspera. Então, cabe ao povo participar. A reforma agrária será uma conquista e não um presente. Será fruto da luta do povo.



José Gonçalves do Nascimento


(Artigo publicado, originalmente, pelo Jornal de Opinião, Belo Horizonte, edição de 9-15 de agosto de 1993 e pela Revista Eclesiástica Brasileira – REB, Fasc. 212 – Dezembro – 1993, Petrópolis – Rio de Janeiro, pp. 943-944)

NOVA ERA: UMA IDEIA PERIGOSA


Prestes à virada do século e já na alvorada do terceiro milênio, quando nos preparamos para a celebração dos dois mil anos do nascimento de Nosso Senhor, vemo-nos diante de uma filosofia que, infiltrando-se sutilmente, afronta nossos valores mais sublimes, enquanto propõe “novos” conceitos e “novos comportamentos. Trata-se da Nova Era, movimento de cunho esoterista fundado nos Estados Unidos pela vidente russa Helena Blavatsky.

O termo Nova Era exprime a ideia de contraposição à Era Cristã. Para o movimento, a Era cristã, “era de peixe”, chega ao seu fim e deverá ser substituída pela era de aquário, a Nova Era.

A nova doutrina nega a identidade de Jesus como Messias, considerando-o apenas uns dos enviados de Maitreya, o verdadeiro “messias” a quem todos esperam. Deus não é pessoa nem criador, mas uma “energia cósmica”. O homem não precisa da salvação de Deus, pois também é divino. Basta-lhe entrar em harmonia com o cosmos e se igualará a Deus. Na busca dessa harmonia incluem-se, naturalmente, práticas como o lesbianismo, o homossexualismo, a troca de pares, entre outros.

Entre os propósitos da Nova Era destacam-se: eliminar as religiões, especialmente a cristã e fundar uma única religião; suprimir a instituição familiar; implantar um único sistema monetário; criar um único governo mundial.

São bastante evidentes as conotações totalitaristas do movimento. É curioso que a sua propagação esteja ocorrendo, justamente, no momento em que ressurgem, no mundo inteiro, as tendências nazi-fascistas. Por sinal, um dos símbolos da Nova Era é a cruz suástica que, a partir da 2ª guerra mundial, se tornou a marca no terror de Adolf Hitler, o homem que, na sua desvairada pretensão de conquistar o mundo, fez desencadear a guerra que levou ao holocausto mais de 50 milhões de seres humanos.

A Nova Era, à semelhança da doutrina hitleana, prega a instituição de um governo universal, uma espécie de ditadura mundial. Conforme apregoa, o planeta deverá ser dominado por um “diretório mundial”, segundo os critérios de um só líder. Os que não quiseram se submeter à “nova ordem” serão condenados ao extermínio.

Embora de forma discreta, a nova doutrina vem sendo amplamente divulgada. É sabido do empenho de várias organizações e grupos econômicos no apoio e divulgação da tal “nova”. Os veículos mais adequados têm sido, naturalmente, a mídia e a “onda” do consumismo. A presa mais fácil tem sido o jovem.

Vivemos um momento em que o mundo inteiro se volta em defesa da dignidade, da ética, da democracia, da eliminação dos preconceitos e da reafirmação dos valores morais e familiares.

A família, ao contrário do que defende a Nova Era, não é uma instituição antiquada. Como “Núcleo natural e fundamental da sociedade”, no dizer da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a família é sempre atual e indispensável. “Só ela, ensina João Paulo II, garante a continuidade e o futuro da sociedade”. O berço familiar é, também, o lugar onde o homem e a mulher adquirem a sua identidade e constroem a sua formação.

Acima de tudo, está a chama do Evangelho que se mantém acesa. Jesus continua o Nosso Senhor e Salvador. Aquele de “Ontem, Hoje e Sempre” (Hb.13,8).

José Gonçalves do Nascimento

(Artigo publicado, originalmente, no jornal Diário de Itabuna, em 31 de março de 1994, no jornal A TARDE de Salvador, em 24 de maio de 1994 e no jornal Diário de Ilhéus, em 27 de abril de 1994)

O SANTO NATAL


O Santo Natal, uma das festas maiores do mundo cristão, começou a ser celebrado logo cedo. Um calendário romano do ano 534, já dava conta da existência dessa festa no dia 25 de dezembro, dia do “Sol Invictus”, uma das tantas manifestações “pagãs” superadas pelo cristianismo. O costume foi se difundindo e a festa que, no início, era celebrada só em Roma, ganha o mundo, atravessa os séculos e chega ao nosso tempo, nos cobrindo de luz e nos cumulando de vida.

A celebração do Natal nos conduz àquele evento único no qual Deus se fez conhecer, tornando-se carne e habitando entre nós (Cf. Jo 1,14). Tal evento, nós o chamamos de revelação divina. Deus na sua infinita bondade quis comunicar a sua vida aos homens. É o que expressa o Concílio Vaticano II:”Aprouve a Deus, em sua sabedoria, revelar-se a si mesmo e tornar conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual os homens por intermédio de Cristo, verbo feito carne, no seu Espírito Santo, têm acesso ao pai e se tornam participantes da natureza divina” (Dei Verbum 2).

Por amor a nós, Deus, que é todo poderoso, se faz pequeno, chegando mesmo a se anular. “O todo entra no fragmento”, o imutável se torna efêmero, a própria eternidade entra no tempo e se submete aos limites impostos por este.

Parece por demais paradoxal, mas tudo isto deve ser visto a partir do projeto da salvação divina, projeto este, que se concluirá com a paixão, morte e ressurreição do Senhor.

Neste sentido, o Natal é já o começo da redenção salvifica, uma vez que o encontro do divino com o humano devolve ao homem e à mulher a sua dignidade e os introduz em uma vida nova e plena.

O Natal tem também a sua dimensão cósmica. Na encarnação Cristo reintegra o universo inteiro. Assim reza o segundo prefácio do Natal do Senhor, conforme o Missal Romano: “Ele, no mistério do Natal que celebramos invisível na sua divindade, tornou-se visível em nossa carne. Gerado antes do tempo, entrou na história da humanidade para erguer o mundo decaído. Restaurando a integridade do universo, introduz no reino dos céus, o homem redimido”.

É necessário, pois, abrir o coração para acolher esse dom imenso, fruto do amor misericordioso do Pai. Essa será a nossa resposta. Assim estaremos fazendo com que o espírito do Natal penetre o mundo e o transforme.

O Natal interpela a nossa fé e a nossa consciência. Ora, como é possível vivenciar algo tão profundo sendo indiferente a tantos problemas que, a nossa volta, atropelam o plano de Deus?

Celebrar o nascimento de Deus que se faz história é comprometer-se com essa mesma história procurando devolver a ela a sua dignidade. Desta forma, estaremos favorecendo cada vez mais o “encontro admirável” entre o céu e a terra.

José Gonçalves do Nascimento

(Presidente da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim - Bahia)

domingo, 22 de novembro de 2009

MENSAGEM A UM CASAL

Um dia, na estrada da vida, quis Deus que nos encontrássemos.

E eis que nesse encontro um sentimento maior invadiu-nos a alma e dominou nossos corações.

Foi assim que começou a nossa história de amor.

Uma história aparentemente comum, mas muito especial.

Especial, em primeiro lugar, porque foi Deus que nos escolheu um para o outro, chamando-nos pelo nome como aquele pai que busca o melhor para os seus;

depois, porque somos únicos, irrepetíveis (cada um com sua trajetória, com sua história de vida, com seus ideais...);

finalmente, porque nosso amor também é único, vivido unicamente por nós dois.

Eis a nossa vocação,

eis a nossa resposta,

eis a nossa missão:

ser um para o outro, carne da mesma carne, num só propósito...

Isto requer que a cada dia reguemos em nós a planta do amor, cuja semente lançou-se um dia no terreno fértil da nossa existência;

que reavivemos a cada instante da nossa vida, a chama desse sentimento sublime que num determinado momento passou a arder nos nossos corações, lançando-nos um ao outro de forma indescritível.

Temos ciência do quanto é difícil viver a dois.

Todavia, independente de ser a dois ou não, viver é sempre um desafio.

A nossa grandeza consiste em saber encarar os desafios da vida, equacionando cada situação conforme esta se apresente.

Disto cuidará o bom senso e do bom senso cuidará o amor.

O amor é o fundamento, a pedra angular, a bússola que nos orienta em direção das melhores rotas;

o mesmo amor que nas palavras do apóstolo

“É paciente, não guarda rancor, e tudo espera”.

Esse é o amor que ora se sela diante deste altar, e que nos unirá para sempre.




José Gonçalves do Nascimento

O ANO LITÚRGICO


Assim como temos o ano letivo, o ano comercial, o ano jurídico e o ano civil, temos também o ano eclesiástico ou ano litúrgico.

O ano litúrgico começa no primeiro domingo do Advento e termina na festa de Cristo Rei, ou seja, no domingo anterior ao tempo de Advento.

Nos primórdios da Igreja o ano eclesiástico iniciava no dia de Páscoa e se fundamentava na ideia de que a Ressurreição de Cristo assinala o começo de uma nova criação. Só a partir do século VIII, depois de uma longa história de amadurecimento da liturgia, é que o ano litúrgico ganha a atual estrutura.

O ano litúrgico é a moldura, diríamos assim, dentro da qual se celebram todos os eventos relacionados ao mistério da salvação atuado por Cristo Jesus, destacando-se, aí, a celebração do mistério eucarístico. Em síntese, é a celebração-atuação do mistério de Cristo no tempo.

O componente tempo assume aqui papel relevante, já que para o cristão o tempo é a categoria dentro da qual se atua a salvação. Nesse sentido se expressa o Concílio Vaticano II: “No decorrer do ano (a Igreja) revela todo o Mistério de Cristo desde a Encarnação e Natividade até a Ascensão, o dia de Pentecostes e a expectativa da feliz esperança e vinda do Senhor. Relembrando assim os mistérios da Redenção, franqueia aos fiéis as riquezas do poder santificador e dos mistérios de seu Senhor, de tal sorte que, de alguma forma, os torna presentes em todo o tempo, para que os fiéis entrem em contato com eles e sejam repletos da salvação” (Sacrosantum Concilium, 102).

A liturgia, desta forma, prolonga e atua no tempo, através da celebração, as riquezas salvíficas de Nosso Senhor. Por isso o ano litúrgico não é uma série de ideias ou uma sucessão de festas mais ou menos importantes. Ele é, acima de tudo, uma pessoa: Jesus Cristo. A salvação que ele realizou “principalmente pelo Mistério Pascal de sua Sagrada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão” (idem,5), nos é comunicado por meio das várias ações sacramentais que caracterizam o calendário litúrgico. A história da salvação que continua no hoje da Igreja constitui, portanto, a base do ano litúrgico.

Neste sentido, cada ano litúrgico é sempre “um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 19), uma vez que ele antecipa as maravilhas do reino de Deus, transformando o tempo em oportunidade de santificação.

Aproveitemos, portanto, o ano litúrgico como dádiva do Senhor e procuremos dignificá-lo com a nossa participação e com o nosso testemunho de fé.


José Gonçalves do Nascimento

(Artigo publicado, originalmente, no Jornal A Voz da Tapera, Senhor do Bonfim, 1999)

SONETO 200 ANOS

Jubilosos, cantemos Monte Santo!

Nessa festa de fé, esperança e luz

O Sagrado Coração de Jesus

É a fonte resplendente desse encanto.



Confiante, o sertanejo em acalanto

Refaz os passos, a história reconduz

E numa só voz entoa um belo canto

De braços dados com a Santa Cruz.



No seio a caatinga, foi ela assentada

Por mãos obreiras então cultivada

E assim se fez a Igreja Paroquial.



200 anos, eis a caminhada

A história não pára, segue a “jornada”

Está em marcha o sertão, pro Reino ideal.




José Gonçalves do Nascimento

(Soneto publicado, originalmente, no Jornal o GAC de Monte Santo - Bahia, em setembro de 1992)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

20 DE NOVEMBRO: UMA HOMENAGEM A ZUMBI DOS PALMARES


Entre os séculos XVII e XIX, numerosos quilombos foram organizados no Brasil. O mais famoso de todos foi o Quilombo dos Palmares, considerado o mais importante movimento de resistência negra do Brasil.

Palmares se estendeu por vastas regiões do atual estado de Alagoas e durou 95 anos (1600 a 1695). Sua população chegou a atingir a cifra de 50 mil pessoas.

Ali, entre as serras, os negros que fugiam da escravidão encontravam proteção natural para construir suas aldeias. Livre do jugo dos senhores, eles contavam com uma produção agrícola que garantia a sua manutenção. O excedente era trocado por artigos que eles não produziam, como tecidos, armas, etc.

O líder maior dos Quilombos dos Palmares foi Zumbi. Ele nasceu nos Palmares no ano de 1655. Com poucos meses foi entregue ao Padre Antônio de Melo da freguesia de Porto Calvo que o criou e o educou. Em 1670, Zumbi fugiu para os Palmares onde se tornou general.

Os donos do poder colonial sentiram-se ameaçados e investiram contra o quilombo. Sucessivas expedições foram mandadas contra os quilombolas. Depois de três anos de resistência, os negros foram derrotados pelo famoso bandeirante Domingo Jorge Velho. Em 20 de novembro de 1695, tombava o grande líder, Zumbi. O herói foi esquartejado e sua cabeça colocada num poste na praça central de Olinda, Pernambuco.

José Gonçalves do Nascimento

(Membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim - Bahia)

A SOCIEDADE ALTERNATIVA DE CANUDOS


Entre 1893 e 1897, poucos anos após a proclamação da República, a Bahia servia de berço de um dos mais extraordinários exemplos de mobilização popular que a história do Brasil já registrou: o arraial de Canudos ou Belo Monte. Edificado por Antônio Conselheiro e seus seguidores, Canudos representou o desejo de liberdade que, há séculos, era alimentado pelos pobres do Nordeste. Ali, os sertanejos puderam, finalmente, adquirir a sua autonomia. Livres do domínio dos coronéis e movidos pelos valores da religião, eles foram responsáveis pela construção de um modelo alternativo de sociedade, onde tiveram lugar os princípios da partilha e da solidariedade. Em pouco tempo, o arraial sertanejo se transformou num dos maiores aglomerados populacionais da Bahia, chamando a atenção do país e tornando-se, como alegava o barão de Jeremoabo, “a questão do dia que preocupa todos os espíritos lúcidos” do Brasil. Completamente insubmissa aos ditames do regime republicano que, naqueles dias, havia se instalado no país, a comunidade de Canudos acabou despertando a ira das elites brasileiras, as quais resolvem apelar para o ataque. Assim, tinha lugar a Guerra de Canudos.


1 - ANTÔNIO CONSELHEIRO


O fundador de Canudos, Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido em grande parte do nordeste como Antônio Conselheiro, Santo Antônio Aparecido ou Bom Jesus Conselheiro, nasceu aos 13 de março de 1830, em Quixeramobim, na então província do Ceará. Aos quatro anos tornou-se órfão de mãe ficando sob os (des) cuidados de tresloucada madrasta. Mais tarde, ao perder o pai, incumbiu-se da responsabilidade de cuidar de três irmãs de menor idade. Em 1857 casou-se com uma prima, Brasilina Laurentina da Silva, que, anos depois, o abandonou fugindo com um furriel da polícia do Ceará. Assumiu os negócios do genitor, mas não obtendo sucesso, deles se desfez vindo a desempenhar outros ofícios. Trabalhou como caixeiro viajante, construtor civil, rábula e professor. Em seguida, investiu-se da missão de beato e passou a peregrinar pelos sertões do Nordeste fazendo sermões e aconselhando o povo simples. Nesse novo itinerário, além de propagador dos valores da religião, se dedicou também à construção de igrejas, cemitérios e aguadas. Tornou-se, conforme escreveu Euclides da Cunha, “o emissário das alturas tendo uma função exclusiva: apontar aos pecadores o caminho dos céus. Não foi além. Era um servo jungido à tarefa dura; e lá se foi, caminho dos sertões bravios, largo tempo, arrastando a carcaça claudicante, impressionando pela firmeza nunca abalada e seguindo para um objetivo fixo com finalidade irresistível”.


Antônio Conselheiro foi rigoroso no combate à arrecadação de impostos, à escravidão, à República e ao casamento civil. Com a mesma veemência, defendeu a fé católica e os valores morais dos sertanejos ensinando a prática do perdão, da obediência, e do amor ao próximo. Repeliu o furto, a violência, o adultério, a prática da prostituição e toda forma de vícios. É disto que tratam as suas prédicas – hoje conhecidas do grande público, graças ao esforço do professor Ataliba Nogueira que as publicou nos anos setenta.


Desprendido dos bens materiais e dispensando qualquer tipo de comodidade, Conselheiro alimentava-se, quase sempre, das esmolas que lhe ofereciam. Trajava túnica de algodão e dormia frequentemente em cima de uma esteira. Nas suas peregrinações pelas terras calcinadas do Nordeste, andava quase sempre a pé. O seu dia-a-dia era voltado para o trabalho, o aconselhamento e a oração.


Foi nessas andanças pelas searas sertanejas, que ele chegou às margens do Vaza-Barris, importante rio do semi-árido baiano, onde estabeleceu o arraial místico de Canudos.


Questões para serem discutidas:

1. Antônio Conselheiro era uma pessoa competente e com muitas habilidades; foi comerciante, caixeiro viajante, construtor civil, rábula e professor. Por que, então, ele optou por uma vida tão arriscada?


2. O médico Nina Rodrigues disse que Antônio Conselheiro transformou Canudos de “estância deserta e abandonada em uma vila florescente e rica”. Que comparação você faz do Conselheiro com os políticos atuais?


II – CANUDOS


1. Discussões em torno da natureza político-ideológica do movimento de Canudos

Existem várias opiniões sobre a natureza político-ideológica da povoação de Canudos.


Para Maria Isaura Pereira Queiroz, estudiosa do messianismo no Brasil e no mundo, Canudos foi uma espécie de “nova Jerusalém”, onde os crentes aguardavam a iminência do juízo final, furtando-se às leis da República e às influências do anticristo.


Já para Rui Facó e Edmundo Moniz, intérpretes do movimento de Antonio Conselheiro a partir da ótica marxista, o episódio de Canudos foi a tentativa revolucionária de estabelecer no nordeste do Brasil um modelo igualitário de sociedade, estando aí contidos os elementos intrínsecos à luta de classes.


As duas teses, todavia, despertam alguns questionamentos.


No caso da proposta messianista, defendida por Queiroz, há de se considerar que uma comunidade que assumisse semelhante característica, não poderia nutrir a menor expectativa de longo prazo, sendo levada, inevitavelmente, a descuidar-se de questões vitais como a atividade econômica e a instrução formal. Como se explicaria a existência de escola na comunidade Canudos, uma vez que a educação é um investimento que, necessariamente, aponta para o futuro? Questão parecida poderia ser posta em relação ao trabalho, considerando que esta atividade constituiu um dos pilares da dinâmica canudense, em oposição ao saque - prática que, aliás, seria mais cômoda em um grupo que se propusesse à espera ansiosa pelo final dos tempos.


Quanto à abordagem “igualitarista”, aplicada à comunidade de Canudos, diríamos que o problema maior é a falta de fundamentação teórica para tal, uma vez que não encontramos, em toda obra manuscrita de Antônio Conselheiro, uma linha sequer em que o beato do Belo Monte condene a propriedade privada dos meios de produção e ao mesmo tempo defenda a supressão das desigualdades sociais. Além do mais, nunca houve um modo de vida igualitário dentro do arraial conselheirista. A cidade estava dividida entre ricos e pobres. Entre uma minoria abastada, a exemplo de Joaquim Macambira e dos irmãos Vilanova que detinham o controle das terras e do comércio local, e uma grande maioria de gente pobre que migrava para Canudos em busca de dias melhores.


A propósito de tal questão, a ideia que tem apresentado maior consistência é a que aponta Canudos como uma experiência alternativa de sociedade. Experiência que se deveu ao fato de Antônio Conselheiro não ter reconhecido o sistema republicano e, por isso, ter optado por construir uma comunidade, autônoma e completamente insubmissa às regras do novo regime. Compunha tais regras, por exemplo, o casamento civil – o único reconhecido oficialmente. Por esta e por outras razões, a República era má por natureza, não podendo advir dela nada que pudesse ser benéfico. Identificada como a manifestação do “anticristo” ou a própria “lei do cão”, a República se tornava “ré pública”, abominável aos olhos dos católicos mais fervorosos. Por essa razão, tornava-se inadmissível que alguém fiel à ortodoxia da Igreja, viesse a se submeter ao regime republicano.


Situado às margens úmidas do rio Vaza-Barris, Canudos se apresentava, naquele momento, como o “refúgio” seguro onde os sertanejos podiam “repousar” tranquilos longe do jugo de um sistema estatal que, entre outros malefícios, começava, através dos municípios, a penalizar os pobres com a cobrança de impostos. Tendo como princípios básicos o trabalho e a oração, o arraial de Canudos, em apenas três anos, tornou-se uma das maiores povoações do interior da Bahia, sendo responsável, inclusive, pela sua autosustentação.


2. Aspectos econômicos de Canudos


Angelina Nobre Rolim Garcez, em importante trabalho sobre os “Aspectos Econômicos do Episódio de Canudos”, publicado nos anos setenta, afirma que “Canudos não pode ter se mantido todo tempo, opondo a resistência que opôs, por força apenas dos acasos da sorte. Um apoio econômico mais regular e mais sólido deve ter existido, ou melhor dizendo, não pode deixar de ter existido”. E, realmente, existiu.


Relatos da época dão conta do nível de prosperidade econômica a que chegou a comunidade sertaneja de Canudos. Nina Rodrigues, o mesmo que examinou o crânio do beato de Quixeramobim, constatava em 1897 – ano da guerra – que Antônio Conselheiro havia, em curto prazo, transformado Canudos “de estância deserta e abandonada em uma vila florescente e rica”. Manoel Benício, autor do livro “O Rei dos Jagunços” e testemunha ocular dos fatos relativos a Canudos, uma vez que ali esteve como correspondente do Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, notou e anotou que “Às margens frescas do rio [o Vaza-Barris que banhava Canudos] eram cultivadas plantações de diversos legumes, milho, feijão, favas, batatas, melancias, jerimuns, melões, canas etc. Nos terrenos arenosos, viam-se milhares de matombos, grelando o talo tenro das mandiocas e outros com estacas de diversos tamanhos. Pelas vizinhanças, os pequenos cultores da terra, possuíam sítios, pomares, fazendolas de criação de bode, animais vacuns e cavalares”. A pecuária, com foco na caprinocultura, exerceu papel de destaque na economia dos canudenses. Esse dado chamou a atenção de um dos políticos mais importantes daquela época, o deputado baiano Cézar Zama, que sobre isso se pronunciou: “Aquela povoação [Canudos] proporcionava ao Estado pingue fonte de receita do imposto de exportação sobre peles”. Manuel Ciríaco, homem influente no arraial conselheirista, contou a Odorico Tavares em 1947: “No tempo de Antonio não gosto nem de falar para não passar por mentiroso, havia de tudo, por estes arredores. Dava de tudo e até cana de açúcar de se descascar com a unha, nascia bonitona por estes lados. Legumes em abundância e chuvas a vontade, esse tempo parece mentira”. Outro remanescente de Canudos, Honório Vilanova, ao ser entrevistado por Nertan Macedo, não esconde a nostalgia quando o assunto é o cotidiano de Canudos: “Recordações, moço? Grande era o Canudos do meu tempo. Quem tinha roça tratava de roça, na beira do rio. Quem tinha gado tratava do gado. Quem tinha mulher e filhos, tratava da mulher e dos filhos. Quem gostava de rezar ia rezar. De tudo se tratava porque a nenhum pertencia e era de todos, pequenos e grandes, na regra ensinada pelo peregrino”.


Este conjunto de informações oriundas de figuras de dentro e de fora de Canudos; de pessoas relacionadas com Antônio Conselheiro e de pessoas que a ele se contrapunham, dá uma dimensão aproximada do que representou a economia do Belo Monte e, ao mesmo tempo, desmistifica informações tendenciosas e por vezes eivadas de preconceito e malícia, como as que emitiu Frei João Evangelista do Monte Marciano, dando conta de que o povoado de Canudos vivia em estado de penúria e abandono.


3. Cotidiano de Canudos

O já mencionado jornalista Manoel Benício, responsável por um dos mais importantes testemunhos sobre o cotidiano de Canudos, nos apresenta uma comunidade em constante atividade, e onde todas as pessoas, independentemente do gênero e da idade, tinham os seus próprios afazeres: “As mulheres [diz ele] não estavam inativas”. Elas trabalhavam, entre outras coisas, no fabrico da farinha e na preparação do sal que era usado para o tempero e para suprir os diversos curtumes que ali existiam. “As moças [continua o autor de “O Rei dos Jagunços”] fabricavam redes de crauá, indo buscar nas caatingas feixes destas bromélias de que tiravam as fibras da casca verde, pilando-as e deitando-as em seguida no sol para as enxugar (...) Enquanto isto, o malho dos ferreiros batendo nas bigornas e zunindo como um grito de araponga anunciava que não havia falta de foice, faca, chuchos, machados, etc. no arraial (...) Metade das crianças banhava-se no rio, outra caçava a bodoque, besta e arcos, armando arapucas, mondéis e quixós nas caatingas para apanharem caça”.


Os sertanejos reunidos em Canudos eram, na sua grande maioria, trabalhadores rurais que acabavam de fugir das grandes fazendas da região, onde eram historicamente vítimas do latifúndio e da escravização. Esses trabalhadores, por sua vez, se constituíam, de modo expressivo, de índios provenientes de tribos que habitavam o entorno do Belo Monte, como os Kiriris de Mirandela, os Caimbés de Massacará e os Tuxá de Rodelas, além de negros ex-escravos que, mesmo depois da lei áurea, continuavam explorados pelos fazendeiros do sertão. José Calasans, a propósito, chega a classificar Canudos como “o nosso último quilombo”. Acossada pela miséria e pela dominação dos senhores da terra, essa gente encontrava em Canudos, a Canaã Prometida. Daí o mito da terra onde “há rios de leite e barrancas de cuscuz”.


Com uma população, cujas estimativas oscilam entre 10 e 30 mil almas, a comunidade conselheirista era unida e reunida em torno da prática da solidariedade. Prática que, aliás, sempre esteve presente na vida do povo sertanejo. Ali não havia miseráveis, pois cada um recebia conforme a sua necessidade. Além de contar com as coletas que eram levantadas na região por grupos de canudenses, as pessoas podiam, ainda, usufruir livremente das terras que a outros pertenciam realizando, assim, os seus roçados e fazendo as suas plantações.

4. Aspecto religioso da comunidade de Canudos

A sociedade de Canudos se distinguia, acima de tudo, pela sua dimensão religiosa. O elemento religioso ocupava o centro da vida canudense, tornando-se o principal fator de unidade entre os mais diversos grupos de sertanejos que ali se encontravam. A religião aqui referida, diga-se de passagem, é aquela expressa nas inúmeras formas de “religiosidade popular” vivenciadas pelas camadas mais pobres do Nordeste e que foi, de maneira exemplar, incorporada por Antônio Conselheiro, nos seus longos anos de peregrinação pelas searas nordestinas. A “reza” fazia parte da programação diária, sendo uma das principais ocupações dos moradores de Canudos. Numa longa descrição sobre a prática religiosa dos seguidores de Antônio Conselheiro, Euclides da Cunha fez a seguinte anotação: “Ao cair da tarde, a voz do sino apelidava os fiéis para a oração. Cessavam os trabalhos. O povo adensava-se sob a latada coberta de folhagens. Derramava-se pela praça. Ajoelhava. Difundia-se nos ares o coro da primeira reza... As rezas, em geral, prolongavam-se”. A esse respeito vale transcrever também o minucioso depoimento de Honório Vilanova concedido a Nertan Macedo: “Assim era a vida. As beatas rezavam o dia inteiro. Estavam sempre ajoelhadas no oratório, desfiando os rosários, cantando as ladainhas. Até mesmo de madrugada. De manhã era o ofício. As novenas de Santo Antonio. Cantavam-se os benditos... à boca da noite começava o terço na latada. Diante das muitas imagens de santos trazidas pelo povo: Nossa Senhora, Santo Antonio, São Pedro, São João, os Apóstolos. O peregrino estava sempre presente e sempre pronto a repetir os Mandamentos da Lei de Deus e aconselhar o povo.” Ao final do culto tinha lugar um dos rituais mais importantes da religiosidade popular: o “beija” das imagens.


5. Educação em Canudos


A prática do ensino foi outra característica da comunidade de Canudos. Os cronistas da época dão conta de ter havido, pelo menos, uma escola dentro da povoação sertaneja. Vale ressaltar, a propósito, que Antônio Conselheiro, antes de se tornar peregrino, chegara a ser professor tendo lecionado – como informa Abelardo Montenegro – Português, Aritmética e Geografia. O interesse pela educação esteve sempre presente na vida do místico de Quixeramobim. Prova disto, é que nos lugares por onde passava, cuidava logo de erguer uma escola. Foi o que ocorreu, num primeiro momento, no arraial do Bom Jesus (hoje cidade de Crisópolis) e, posteriormente, no arraial de Canudos, locais onde a presença do pregador teve papel determinante. Em ambos os casos, ao que nos parece, a atividade escolar chegou a ocupar lugar de destaque na vida comunitária, ao lado das atividades laborais e religiosas. Conforme anotação de Euclides da Cunha, a escola de Canudos era mista e funcionava todos os dias. Tinha grande número de meninos e cada um deles pagava dois mil réis por mês. Um desses meninos foi Isidoro, um dos inúmeros que figuram na lista do Comitê Patriótico da Bahia – organização não governamental criada, na época, para dá assistência aos soldados envolvidos na guerra sertaneja. O menino, caboclo de 10 anos, foi “aproveitado” na escola de Canudos por sua inteligência e sua vivacidade. A professora era Maria Francisca de Vasconcelos. Segundo informação de Manoel Benício tinha ela 23 anos. “Era morena, arisca, tendo cursado a escola normal da Bahia, onde apanhara alguma instrução. O Conselheiro nomeou-a professora do arraial, indo ela morar na baixada por trás do cemitério, que desde este tempo tomou o nome de rua da professora”. Há de se avaliar o quanto significou uma iniciativa de tal natureza, numa época em que a quase totalidade da população sertaneja era constituída de pessoas analfabetas.


6. Os colaboradores de Antônio Conselheiro


Numerosos foram os sertanejos que dedicaram suas vidas à construção, à administração e à defesa do arraial sagrado – o que demonstra que Canudos não foi obra apenas de Antônio Conselheiro, mas sim, fruto de um grande mutirão. Entre a gama de canudenses que exerceram papéis de destaque no âmbito da comunidade canudense, cabe-nos destacar: João Abade, chefe do povo, responsável pela defesa da cidade e também pela segurança pessoal do Beato. Morreu em combate; Paulo José da Rosa, amigo pessoal do Conselheiro e um dos homens mais importantes da grei. Ninguém se aproximava do peregrino sem o seu consentimento. Morreu de morte natural; Pajeú, ex-policial, esteve entre os mais aguerridos combatentes. Negro valente e bom de tocaia ficou “famoso [observa Walnice Nogueira Galvão] por sua imaginação tática ao elaborar ardis guerrilheiros em vários lances da guerra”. Tombou durante os conflitos; Pedrão, membro da Guarda Católica e talvez a figura de maior expressão entre os canudenses. “Mestiço de porte gigantesco”, conforme destacou Euclides da Cunha, ocupou lugar de destaque durante os combates, tendo sido comandante de piquete. Sobrevivente, confessou a José Calasans nos anos cinquenta: “o coração pedia para brigar”. E ainda: “faz pena um homem como eu morrer sentado”; Conta-se, que estando em visita a Canudos nos anos quarenta, Getúlio Vargas demonstrou interesse em conhecer Pedrão. Mas, conforme relata Álvaro Ribeiro dos Santos, em artigo publicado no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, no início de 1958, foram inúteis todos os esforços despendidos nesse sentido. Aos emissários que foram apanhá-lo em casa, o velho herói respondeu como se ainda estivesse em guerra: “Diga ao Governo que já estou véio e cansado pra i té lá”; Antônio Beatinho, morador do santuário e figura próxima ao Conselheiro. Foi ele quem negociou a rendição de 300 pessoas nos últimos momentos da refrega. Terminou degolado a mando do General Artur Oscar; Joaquim Macambira, fazendeiro e comerciante de destaque. Tombou morto na guerra; Manoel Quadrado, pagé dos índios Tuxá de Rodelas e curandeiro do lugar. Era o “médico” da comunidade. Nos tempos de paz medicava os doentes, nos tempos de guerra tratava dos feridos. Sobre ele escreveu Euclides da Cunha: “Manoel Quadrado, curandeiro experimentado, debelando as moléstias mercê de uma farmacopéia rudimentar; conhecedor de todas as folhas e raízes benéficas, vivendo isolado num investigar perene, pelas drogarias inexauríveis e primitivas das matas”. Sucumbiu em plena guerra; Antônio Fogueteiro, índio da tribo Kiriri e figura de influência no séquito conselheirista. Além de clavinoteiro e comandante de piquete, era também responsável pelo fabrico dos foguetes que espocavam no Belo Monte em momentos de festividades. Não há notícias precisas quanto ao seu desaparecimento; Antonio Vilanova, comerciante abastado. Fugiu de Canudos com seu irmão Honório, antes de terminar o conflito; Leão da Silva – o Leão de Natuba do romance de Mário Vargas Llosa – secretário do Conselheiro. Tinha a responsabilidade de redigir as cartas e os sermões do peregrino. Pereceu durante a peleja; Tia Benta, mordoma do Beato e uma das figuras femininas mais importantes do Belo Monte. Não sabemos como findou; Maria Leandra dos Santos, viúva de Rozendo Maximiliano dos Santos, homem de posse da região de Tucano. Ao final da Guerra foi levada para Alagoinhas juntamente com outras mulheres. Ficou conhecida pelos atos de solidariedade em favor das suas companheiras de infortúnio, tendo com isto, despendido grande parte da sua herança; Pimpona, mulher de Honório Vilanova. Passou a ser chamada por este nome, devido à sua encantadora formosura. Foi balconista da loja do cunhado Antônio, e defensora aguerrida do arraial conselheirista, chegando a ser ferida em combate. Evadiu-se com os Vilanova antes de findar a batalha.


E a lista continua... Sem esses devotados sertanejos, Antônio Conselheiro, certamente, não teria erguido o grande “império” dos seus sonhos.


Questões para serem discutidas:

1. Alguns historiadores descrevem Canudos como uma comunidade que acolheu os pobres, os despossuídos, os sem terra, os ex-escravos e toda espécie de marginalizados. Todos esses encontraram, em Canudos, a felicidade que buscavam. Como você explica isto?


2. A abolição da escravatura, a proclamação da República e o movimento de Canudos aconteceram na mesma época. Qual a relação existente entre esses fatos?


3. A vida religiosa em Canudos era o elemento mais importante. Todavia, se tratava de uma religião tradicional que não refletia criticamente a realidade. Era uma religião bem diferente daquela das Comunidades Eclesiais de Base. Por que, então, os canudenses despertaram a ira das autoridades resultando numa guerra tão cruel?


III - A GUERRA


Entre os muitos fatores que motivaram a guerra contra a comunidade sertaneja de Canudos, encontram-se os fatores político, econômico e religioso.


1. Fator político


No campo político dominava a ideia de que Canudos era um foco de restauração monárquica instalado no sertão, algo que punha em risco a República então nascente. Tal problemática entra na pauta da política baiana e passa a ser explorada como uma peça a mais na enorme rede de intrigas envolvendo o governador Luis Viana e o seu rival José Gonçalves da Silva. Tentando forçar uma intervenção federal no Estado – o que seria favorável para a oposição – Gonçalves, em coro com seu aliado, Cícero Dantas Martins, o barão de Geremoabo, acusa Viana de tolerância em relação aos fatos de Canudos, alegando que se o governador assim procedia era porque nutria simpatias pela causa da restauração, supostamente assumida no âmbito da comunidade canudense. Pressionado, Luis Viana se decide pelo ataque ao arraial


2. Fator econômico


No tocante à questão econômica cabe acentuar a insatisfação dos fazendeiros quanto à escassez de mão-de-obra nas suas propriedades ocasionada pela ausência dos camponeses que, em massa, migravam para Canudos. Tal fator se registrava, justamente, no momento em que o sistema escravocrata era abolido no país. Vários fazendeiros da região, entre eles o Barão de Geremoabo, detentor de grandes possessões nas proximidades da “comuna sagrada”, sentiram-se incomodados com tal situação. A comunidade de Canudos passava a ser encarada como uma forte ameaça ao status quo do sistema fundiário sertanejo que, baseado no latifúndio e na escravização da força de trabalho, há séculos imperava por aquelas terras. A ameaça teria que ser afastada. Foram inúmeras, as intervenções dos fazendeiros junto às autoridades da época solicitando providências no sentido de que fossem desbaratados os sertanejos reunidos em Canudos.


3. Fator religioso


O “incômodo” estendia-se também ao ambiente religioso. A pregação de Antônio Conselheiro arrastava multidões de fiéis e diminuía de forma significativa a influência da Igreja Católica entre as populações sertanejas, “enfraquecendo não pouco –queixava-se o arcebispo da Bahia – a autoridade dos párocos”. A ausência de testemunho evangélico por parte dos padres contribuía mais ainda para esse quadro. Conforme anotou Benício, “O povo comparando a vida austera e moralizada de Antônio Conselheiro com a vida livre e pouco exemplar dos padres seguia de preferência o profeta de Canudos”. E mais: inteiramente identificado com a realidade do povo pobre do sertão, Antônio Conselheiro procurou conciliar fé e ação transformando em realidade aquilo que os padres só conseguiam visualizar no além túmulo. É nesta perspectiva, aliás, que situamos as diversas obras que ele espalhou por esses sertões. Abalada na sua condição de detentora do monopólio da fé, a Igreja engrossa sua perseguição aos insubordinados do Conselheiro. No relatório encaminhado à autoridade eclesiástica dando conta dos insucessos da missão capuchinha a Canudos realizada em 1895 com o propósito de dispersar a população ali congregada, os missionários sentenciam: “Aí vêm tempos em que forças irresistíveis te sitiarão; braço poderoso te derrubará e, arrasando as tuas trincheiras, desarmando os teus esbirros, dissolverá a seita impostora e maligna, que te reduziu ao teu jugo odioso e aviltante”. Tornava-se a Igreja, desta forma, porta-voz dos interesses de todos aqueles que reclamavam o extermínio completo da comunidade canudense.


4. O extermínio


No final de 1896, o governo republicano, apoiado pelos latifundiários e pela cúpula da Igreja Católica, declara guerra à “aldeia sagrada” dos sertanejos. Para exterminar Canudos, o Estado brasileiro mandou ao sertão da Bahia nada menos que quatro expedições militares, totalizando um contingente de mais de 12 mil homens em armas, mais da metade do efetivo do Exército naquele momento. A capacidade bélica dos sertanejos, inicialmente subestimada, surpreendeu os inimigos. A cada batalha travada, as forças legais sofriam novas baixas e o poder de fogo dos canudenses saía fortalecido. As três primeiras expedições, que juntas totalizavam mais de dois mil militares foram esmagadas fragorosamente. As sucessivas derrotas puseram em pânico o Governo da República que passou a ver em Canudos um perigo cada vez mais real e assustador. Impunha-se, portanto, que se tomassem medidas mais enérgicas. Afinal de contas – acreditava-se – era o destino da República que se encontrava em jogo. O Governo não tardou e uma nova expedição foi mandada às terras sertanejas, desta feita, com mais de 10 mil soldados. As elites, então, puderam respirar aliviadas. Canudos, finalmente, estava liquidado. No conflito, morreram cinco mil soldados e todos os habitantes do burgo conselheirista.


No dia 5 de outubro de 1897 se deram os combates derradeiros. Era o desfecho de quase um ano de luta renhida, em que brasileiros guerrearam contra brasileiros. Os últimos lances dessa epopéia foram narrados por Euclides da Cunha com singular maestria: "Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados."


Antônio Conselheiro morreu no dia 22 de setembro, vítima de infecção gastrointestinal. No dia 6 de outubro, enquanto o arraial ardia em chamas, desenterraram seu corpo e deceparam sua cabeça a qual, após ser exibida como troféu, foi encaminhada a um laboratório médico a fim de ser examinada cientificamente. Não bastava matar fisicamente o líder das massas sertanejas. Era preciso matá-lo, também, moralmente. Assim, era necessário que a ciência o declarasse como louco. Mas, para a ironia da história, o veredicto da ciência declarou Antonio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro do Nordeste, como um homem absolutamente normal.


Canudos entra para a história como um dos maiores e mais violentos massacres já ocorridos em terras brasileiras.


Questões para serem discutidas:

1. Quais os interesses que motivaram a guerra de Canudos? Quais eram os principais atores do conflito?


2. Para os políticos da época, Canudos era um reduto monarquista, atrasado; para os fazendeiros os conselheiristas eram um bando de preguiçosos e saqueadores; para o clero, os habitantes de Canudos eram uma multidão de famintos, imundos, supersticiosos, promíscuos e profanadores que necessitavam de catequese e sacramentos. Por que, então a guerra?


3. Algumas dioceses do sertão instituíram a Romaria de Canudos com o objetivo de resgatar os valores vividos pelos conselheiristas. É tarefa da Igreja interferir nesse processo? Como?


4. “Canudos não morreu”. Esta expressão é, exaustivamente, discutida no movimento de resgate da memória canudense. Qual a sua opinião a este respeito?


CONCLUSÃO


O arrasamento de Canudos não significou, entretanto, o fim dos ideais de Antônio Conselheiro. Os sonhos de uma vida nova, pautada nos princípios da solidariedade e plenamente livre da dominação de uma estrutura sócio-político-econômica que, há centenas de anos, oprime as camadas menos protegidas da população, continuam vivos na mente e no coração do povo brasileiro. São eles que impulsionam os novos conselheiristas – os conselheiristas do século XXI – na luta por uma nova ordem social. Ordem social esta, que deverá primar, entre outras coisas, pela distribuição equitativa da terra; por uma economia baseada nos princípios do cooperativismo e da solidariedade; por uma escola cada vez mais criativa e identificada com a diversidade sócio-cultural da nossa gente, e por uma postura política mais respeitosa e inclusiva em relação aos grupos minoritários da nossa sociedade.


Euclides da Cunha, responsável pelo principal relato a respeito do trágico episódio, proclamou ao final da guerra que “Canudos não se rendeu”. Hoje, transcorrido mais de um século, nós declaramos aos quatro ventos que Canudos não morreu. Ele pulsa no coração de cada filho do Brasil.



José Gonçalves do Nascimento

(Membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Senhor do Bonfim - Bahia)

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