domingo, 22 de agosto de 2010

UM CERTO CAJUEIRO



De antigos desbravadores,

ainda sob o domínio das caatingas,

nasce um certo Cajueiro,

marco de uma história promissora.

Nutrido pela seiva prodigiosa da terra sertaneja,

aquele pioneiro assentou raízes,

floresceu, frutificou;

estendeu seus galhos

e se transformou num grande povo.

E esse povo cresceu, progrediu, fortaleceu-se...

e ganhou uma identidade.

E o Cajueiro, embora vivo,

virou Nordestina;

e Nordestina se tornou um oásis em meio ao sertão,

desafiando a secura da terra.

Essa é a trajetória árdua,

contudo vitoriosa,

de uma gente que nasceu

sob o signo da luta constante.

Tudo começou lá atrás,

pela mão de homens e mulheres

que, com garra e determinação,

acreditaram e apostaram no futuro.

Bendita seja a memória

desses heróis e heroínas,

eternos cajueiros,

cujas raízes continuam aqui fincadas,

tornando esta terra

sempre mais fértil e sempre mais forte.

Fértil, forte e próspera...

eis a marca indelével

de quem nasceu prá ser grande;

grande na hospitalidade;

grande na bravura;

grande na solidariedade...

grande na vontade de querer Ser,

de querer fazer...

de querer acontecer...

acontecer a beleza de ser um grande povo.

Isso é ser Cajueiro:

brotar, crescer, florir, dar fruto,

estender galhos e virar gente,

gente grande.

Isso é ser Nordestina!!!

José Gonçalves do Nascimento



A ESSÊNCIA DO HOMEM


A essência do homem
está na forma
como ele se relaciona
com os seus semelhantes
e a amizade,
sem soma de dúvidas,
é a expressão de maior grandeza
que um ser humano pode demonstrar.

José Gonçalves

terça-feira, 17 de agosto de 2010

180 ANOS DE ANTÔNIO CONSELHEIRO


Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido também como Antônio Conselheiro, Santo Antônio Aparecido ou Bom Jesus Conselheiro, nasceu aos 13 de março de 1830, no termo de Quixeramobim, na antiga província do Ceará.


Filho de Vicente Mendes Maciel e Maria Joaquina de Jesus, Antônio fica órfão de mãe aos quatro anos de idade, quando passa a conviver sob os maus tratos da madrasta. Mais tarde, ao perder o pai, torna-se arrimo de família, incumbindo-se da responsabilidade de cuidar de três irmãs em idade tenra.

Aos 27 anos, casa-se com uma prima, Brasilina Laurentina da Silva que, anos depois, o abandona, fugindo com um furriel da polícia do Ceará. Assume os negócios do genitor, mas não obtendo nenhum sucesso deles se desfaz, vindo a desempenhar, cada um a seu tempo, os ofícios de caixeiro viajante, construtor civil, rábula e professor.

Em seguida investe-se da missão de beato e passa a peregrinar pelos sertões nordestinos, fazendo sermões e aconselhando o povo simples que a ele recorria sequioso dos seus ensinamentos. Torna-se, como escreveu Euclides da Cunha, em Os Sertões, “o emissário das alturas, tendo uma função exclusiva: apontar aos pecadores o caminho dos céus (...) impressionando pela firmeza nunca abalada e seguindo para um objetivo fixo com finalidade irresistível”.

Homem de fé e leitor assíduo da Bíblia, Antônio Conselheiro não demorou a tomar a defesa dos pobres e oprimidos. Numa região profundamente marcada pela miséria e opressão, ele se apresentava como a grande esperança das massas injustiçadas. Começou como advogado dos pobres (rábula), antes mesmo de assumir vida ascética. Depois, ao presenciar mais de perto a situação de abandono a que foram relegadas as regiões por onde andou – abandono não só da parte do poder público como também das autoridades eclesiásticas – começa a empreender esforços em torno de construções básicas como igrejas, santuários, cemitérios e aguadas.
Espalhadas por alguns estados do Nordeste, muitas dessas construções continuam de pé como que a testemunhar, de forma palpável, uma das maiores e mais belas experiências de vida comunitária de que se tem conhecimento.


Em Canudos, depois de um longo período de 20 anos de peregrinação, ei-lo a questionar, de forma mais contundente, as estruturas de poder que há séculos submetiam o Nordeste ao jugo pesado do atraso, da miséria e da opressão. E assim, numa perspectiva mais efetivamente transformadora, passa ele a defender também questões de ordem estrutural como o direito à terra, ao pão e à liberdade.

Isso comprova que Antônio Conselheiro era um homem extremamente solidário, generoso e bom. Sobejam testemunhos a este respeito. Um morador de Santa Luzia (atual município de Santa Luz, Bahia) em carta publicada no Jornal de Notícias de Salvador, em 10 de junho de 1893, no mesmo mês e ano da fundação de Canudos, descrevia o peregrino como “um homem em extremo humanitário – todo abnegação, todo altruísmo”. Manuel Ciríaco o tinha como um “homem bom e respeitador”; Pedrão, como alguém que “só pregava o bem, só fazia o bem”. Estes e outros testemunhos, de igual natureza, são corroborados pelo eminente escritor cearense Abelardo Montenegro, em ensaio de sua lavra intitulado Antônio Conselheiro: “Antônio revelava-se muito religioso, morigerado e bom, respeitoso para com os velhos. Protegia e acariciava as crianças. Sofria com as rusgas entre o pai e a madrasta. Consideravam-no a pérola de Quixeramobim, por ser um moço sério, trabalhador, honesto e religioso”.

Sintonizado com os anseios das massas sertanejas e ciente de sua missão enquanto portador da palavra libertadora de Deus, ele não mediu esforços no combate aos principais males que naquele momento punham em risco a sobrevivência das classes menos favorecidas. Entre estes males figuravam o trabalho escravo, a arrecadação de impostos e o regime republicano. Com a mesma força e determinação combateu o furto, a violência, o adultério, a prática da prostituição, o alcoolismo e toda sorte de vícios.

Na sua prática diária procurou pautar-se, fundamentalmente, naqueles valores que sempre nortearam a vida do povo sertanejo, como a prática da caridade, do perdão, do amor ao próximo, além de fomentar relações solidárias no trabalho, nos negócios e na convivência cotidiana.
Totalmente desprendido dos bens materiais alimentava-se com frequência das esmolas que lhe ofereciam. Nas peregrinações pelas terras calcinadas do Nordeste, andava quase sempre a pé. O seu dia-a-dia era voltado para o trabalho, o aconselhamento e a meditação.


Foi nessas andanças pelas searas sertanejas, que ele chegou às margens do Vaza-Barris, importante rio do semi-árido baiano, onde estabeleceu o arraial místico de Canudos. Nascia, ali, um modelo novo de sociedade, livre do fardo pesado do latifúndio e calcado nos valores da fé, da partilha e da solidariedade. Canudos surgia como o primeiro passo para a libertação total, quando todos viveriam livres de qualquer jugo ou dominação.

Esse sonho, levou o peregrino até as últimas consequências, resultando na guerra que maculou a Bahia e o Brasil.


José Gonçalves do Nascimento

Presidente da Academia de Letras e Artes de Senhor do Bonfim