quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Academia empossou presidente e deu fardão a novos imortais

A sessão que investiu o poeta José Gonçalves do Nascimento na Presidência da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim (Aclasb), na sexta-feira (4) homenageou também o Dia Municipal da Cultura e transcendeu supostas retóricas entediantes.
Antologias literárias vivificantes, sinopses verdadeiramente acadêmicas e musicalidade para gosto popular e erudito antecederam a posse dos novos membros, Dr. Aurélio Soares (emérito orador e atual vice-prefeito), Téo Canarana (jovem maestro) e Daniel Gomes dos Santos (músico respeitável). Todos os atos foram antecedidos pela fala do Doutor Paulo Batista Machado, multicitado como acadêmico-fundador, que fez um intróito conceitual à Cultura à altura dos fins colimados por uma Academia.

Fino gosto

Do juramento dos novos imortais constou respeitar e conservar as manifestações culturais de nossa gente – capítulo digno de nota porque sem restringir defende a cultura patrimonial da região. A sessão da Academia bonfinense, que não é só “de letras”, deu lugar natural e estatutário a que garotos e garotas de oito a 14 anos feitos em Banda Filarmônica de verdade (dirigida por Fernando Dantas) alternassem performances musicais com um Coral adulto de inegável categoria e com recitais poéticos de fino gosto antológico.
Em nome da tradição a acadêmica, Drª Eurídice passou o bastão para José Gonçalves, que discursou, fez o pré-lançamento de sua última produção em cordel e recebeu os abraços da confraria.

Fonte: Jornal Lampião, dezembro de 2009

A MISSA DO GALO




Cantos, luzes e exortações pias. Assim foi a noite do último dia 24, quando centenas de pessoas acorreram ao largo em frente ao Paço Municipal de Senhor do Bonfim para assistir a celebração da Missa do Galo.

O ato litúrgico, coroamento dos festejos natalinos, foi presidido por sua Excelência o bispo diocesano Dom Canindé Palhano e concelebrado por mais dois sacerdotes.

Em meio à multidão, ora silenciosa, ora exultante, o prefeito Paulo Batista Machado e o vice Aurélio Soares, ao lado das respectivas consortes, faziam-se acompanhar do corpo de funcionários da Prefeitura Municipal.

De cima do palco, instalado exclusivamente para tal fim, o Altar ostentava a sua majestade. A circundá-lo, concelebrantes, acólitos e coroinhas.

A ornamentação e a cor branca, exigidas para o momento, indicavam que o clima era de pleno júbilo. Próximo à Mesa da Eucaristia e regido pelo maestro Carlinhos Carvalho, o coral entoava os hinos mais belos e mais arrebatadores.

No fundo, a fachada do Paço Municipal derramava as suas luzes, criando a mística do local e convidando os fiéis para meditação.

A liturgia da Palavra apontava para o advento do Verbo encarnado. O cântico de Zacarias, extraído do Evangelho de São Lucas, bendizia os céus pelo feito grandioso: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo”. O Salmo de Meditação proclamava que “Os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus”.

Na homilia, proferida com a dignidade de um príncipe da Igreja, o prelado chamava a atenção da assembléia contrita para a magnitude do evento. Ao falar do ato amoroso de Deus Pai, que ofereceu o próprio filho para a Salvação da humanidade, o dignatário da Igreja Particular de Bonfim, do alto da sua autoridade de pastor, conclamava a comunidade reunida, exortando-a a abrir o coração para acolhida amorosa de tão maravilhosa dádiva.

Como outros momentos grandiosos que marcaram a história de Senhor do Bonfim, a exemplo do primeiro Congresso Eucarístico Diocesano, a noite do dia 24 de dezembro de 2009 haverá de permanecer por muito tempo na memória do povo bonfinense.


José Gonçalves do Nascimento
(Presidente da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim - Bahia)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

ACLASB TERÁ JOSÉ GONÇALVES COMO NOVO PRESIDENTE

Com muita música, cultura e poesia a Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim (Aclasb) vai comemorar, nesta sexta-feira, 4 de dezembro, o dia Municipal da Cultura. A programação prevê a posse de três novos acadêmicos – Dr. Aurélio Soares, Téo Canarana e Daniel Gomes dos Santos – e ainda a investidura da nova diretoria. A atual presidente Eurídice Melo Pita passará a Presidência ao acadêmico José Gonçalves do Nascimento, que tomará posse para dirigir a entidade nos próximos dois anos.

Perfil

Poeta, filósofo, formado em teologia, o novo presidente, José Gonçalves é homem de letras cuidadoso com suas pesquisas e construções literárias. Natural do sertão, gosta de cordel, e aclimatado à cultura de sua época não se dispensa da leitura de bons livros.

Som

A noitada de intelectuais será rica de vocalistas e instrumentistas. Regina Salgado (música), Carminha (poesia), Téo Canarana (música), Paulo Machado (discursos e tertúlias), afora o que é instantâneo e imprevisível nesse mundo de arte dos acadêmicos. São muitos os nomes. O escritor Hélio Freitas, o jornalista Antônio Britto e o canudófilo Iuri estão entre os esperados. O cenário será o salão da Câmara de Vereadores e o horário: 19:30h.

Fonte: www.senhordobonfim.ba.gov.br

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ODE A PALAVRA

“No princípio era Palavra, a Palavra estava voltada para Deus e a Palavra era Deus.
No princípio Ela estava voltada para Deus.
Tudo foi feito por meio dela, e, de tudo que existe nada foi feito sem ela.
Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
Essa Luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram apagá-la”.

Assim está dito no Livro da Vida!

A palavra é a razão fundante de todas as coisas.
A força motriz que empurra o mundo,
que embala a história,
que age no agir humano.

A palavra é força divina,
é a luz da vida,
é princípio,
é meio,
é fim.

Ela tudo pode,
e somente ela pode,
pois somente ela existe.

Só a palavra,
somente ela é real.
Tudo o mais,
na palavra está contido.
O mundo é palavra,
as coisas são palavra,
o amor,
a morte,
o silêncio...
tudo é palavra,
os homens são palavra.

“Palavras transformam o mundo”!
Transformam e constroem,
... e também destroem.
Assim foi feito,
e assim se fará,
pois dela é a força,
o poder,
a magia...

A última palavra é sempre dela:
da palavra.

Na guerra do cosmos contra o caos,
aí era a palavra;
quando o irmão matou o irmão,
aí estava a palavra;
quando a ordem cobriu o monte de Deus,
aí era a palavra;
quando a paz alumiou o coração dos homens,
aí era a palavra.

A palavra é a epifania do todo existente.
só nela as coisas podem ser,
podem acontecer,
podem reconhecer-se.

Ela é a perene ebulição que tudo envolve,
e revolve
e revoluciona,
e vibra,
e fascina,
e hipnotiza...

A palavra dos homens recriou/reinventou o mundo.
O mundo nunca mais foi o mesmo depois de Adão,
de Homero,
de Platão,
do Emanuel,
de Cervantes,
de Goethe,
de Beethoven
de Freud,
de Marx,
de Euclides...
Palavra dita,
palavra apenas pensada,
palavra pintada,
palavra cantada,
palavra sentida,
palavras que nunca voam,
já que escritas/inscritas
no âmago da história
e da experiência humana.
Os homens se perdem,
mas as mentes jamais se perdem.

As mentes ficam/estão por aqui.
Ei-las,
eu as vejo:
elas saltam dos poemas de Virgílio,
dos afrescos de Michelangelo,
da tragédia de Ésquilo,
da ética de Aristóteles,
do épico de Camões,
do olhar ressaqueado de Capitu,
da mística de Tereza de Lisieux,
das façanhas do Cavaleiro da Esperança,
da prédica do beato Conselheiro,
das veredas do grande sertão.

Quem disse que o mundo é o mesmo depois da palavra?

É preciso cultuar a palavra.
o culto da palavra faz a cultura.
A cultura alimenta o sonho
e o sonho sustenta a vida.
Sem sonho não há vida,
sem cultura não há sonho.
Sem sonho a gente morre cedo,
sem sonho sequer nasce gente.
Então é necessário cultivar/cultuar/aculturar/inculturar a palavra
para que a vida não morra nunca,
e para que o mundo seja para sempre eterno.


José Gonçalves do Nascimento
(Membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim - Bahia)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ANTONIO CONSELHEIRO, MOREIRA CÉSAR E EUCLIDES DA CUNHA (o que pode haver em comum entre eles?)


A leitura acerca do episódio de Canudos tem nos levado, insistentemente, a fazer a seguinte pergunta: o que poderia haver em comum entre Antônio Conselheiro, Moreira César e Euclides da Cunha? Visto de relance, quase nada. No primeiro caso, temos um pregador matuto, que saído do seio da caatinga do Nordeste, pôs-se a anunciar um mundo solidário e livre do jugo dos senhores da terra e do voto; no segundo, um coronel do Exército brasileiro identificado com as causas republicanas e mandado ao sertão com o intuito de “dar cobro” ao Belo Monte dos sertanejos; no terceiro, um ex-integrante do mesmo Exército, desta feita, investido da função de jornalista e tendo como tarefa cobrir, a serviço dos militares, a guerra que baniu a cidade santa de Canudos. A princípio, três figuras completamente distintas. Contudo, a maneira firme e decisiva com que cada um deles empunhou a bandeira das suas convicções, é algo que, de certa forma, termina identificando os três e, consequentemente, encurtando a longa distância entre eles existente. É disto que trataremos.


1- Antônio Conselheiro


Antônio Vicente Mendes Maciel, ou Antônio Conselheiro, como ficou conhecido por estas paragens, nasceu aos 13 de março de 1830, na Vila do Campo Maior de Quixeramobim, na então província do Ceará. Aos cinco anos de idade torna-se órfão de mãe, ficando sob os (des) cuidados de tresloucada madrasta. Mais tarde, ao perder o pai, vê-se obrigado a cuidar de três irmãs de menor idade. Casa-se com uma prima que, anos depois, o abandona fugindo com um furriel da polícia do Ceará. Assume os negócios do genitor, mas não obtendo sucesso, deles se desfaz vindo a desempenhar outros ofícios. Trabalha como caixeiro viajante, construtor civil, rábula e professor. Em seguida, investiu-se da missão de beato e passou a peregrinar pelos sertões do Nordeste fazendo sermões e aconselhando o povo simples. Nesse novo itinerário, além de propagador dos valores da religião, se dedica também à construção de igrejas, cemitérios e aguadas. Torna-se, conforme escreveu Euclides da Cunha, “(...) o emissário das alturas tendo uma função exclusiva: apontar aos pecadores o caminho dos céus. Não foi além. Era um servo jungido à tarefa dura; e lá se foi, caminho dos sertões bravios, largo tempo, arrastando a carcaça claudicante, impressionando pela firmeza nunca abalada e seguindo para um objetivo fixo com finalidade irresistível (Cunha, 1975, p. 122).

Em 1874, conforme atesta um periódico (O Rabudo) da cidade de Estância, aparece em Sergipe, vindo, em seguida, a migrar para a Bahia. Após percorrer grande parte do Nordeste baiano, em 1893 se fixa em Canudos onde instala uma comunidade que ele mesmo batiza de Belo Monte. Pautada na oração e na vida comunitária, a comuna sertaneja, em apenas quatro anos de existência reúne uma população cujas estimativas oscilam entre 10 e 30 mil almas. Em 1896, o Estado, com o apoio da Igreja e dos fazendeiros, resolve pôr fim àquela experiência dando início a uma guerra que durou um ano (1896-1897) e custou a vida de milhares de pessoas entre soldados e sertanejos.

Firme nas suas convicções, Antônio Conselheiro, em momento algum se deixou intimidar. Mesmo nos momentos de perseguição e humilhação, soube se portar com equilíbrio e serenidade. Foi assim, desde a sua prisão em Itapicuru quando o levaram até Fortaleza sob acusação de ter assassinado a mãe e a mulher, até o curso da guerra que lhe custou à própria vida.

Foi rigoroso no combate à arrecadação de impostos, à escravidão, à República e ao casamento civil. Com a mesma veemência, defendeu a fé católica e os valores morais dos sertanejos, ensinando a prática do perdão, da obediência, do respeito, da oração e do amor ao próximo. Repeliu o furto, a violência, o adultério, a prática da prostituição e toda sorte de vícios. É o que atestam as suas prédicas – hoje conhecidas do grande público graças ao esforço do professor Ataliba Nogueira que as publicou nos anos setenta.

Desprendido dos bens materiais e dispensando qualquer comodidade, Antônio Conselheiro alimentava-se, frequentemente, das esmolas que lhe ofereciam. Trajava túnica de algodão e dormia em cima de uma esteira. Nas suas peregrinações pelas terras calcinadas do Nordeste, andava quase sempre a pé. O seu dia-a-dia era voltado para o trabalho, o aconselhamento e a oração.

Indignado com o sofrimento do povo nordestino, resolveu fundar uma comunidade onde as pessoas pudessem desfrutar de vida digna, respeito e solidariedade. Seria o primeiro passo para a libertação total, quando todos viveriam livres de qualquer jugo ou dominação. Esse sonho, ele levou até as últimas conseqüências, resultando na guerra que maculou a história do Brasil. A guerra de Canudos.


2 - Moreira César


Antônio Moreira César nasceu no dia 27 de julho de 1850, na cidade paulista de Pindamonhangaba. Quanto à sua filiação, sabe-se, apenas, que era filho de certo vigário de nome Antônio Moreira César de Almeida. Pelo menos é o que defende o seu sobrinho-neto Ayrton César Marcondes.

Em 1869, ingressa no Exército como voluntário e, graças a sua dedicação, ascende rapidamente na carreira militar. Chega ao coronelato, por merecimento, aos 42 anos de idade. Em 1892, assume o comando do respeitadíssimo 7º Batalhão de Infantaria e no ano seguinte combate na Revolta da Armada – levante comandado por um grupo de altos oficiais da Marinha Brasileira que se opunha à permanência de Floriano Peixoto na presidência da República. Em 1894, é nomeado governador interventor do Estado de Santa Catarina, onde reprime a Revolução Federalista – movimento anti-republicano que atuava na região sul do país. Com a derrota do major Febrônio de Brito nas proximidades do burgo sagrado de Antônio Conselheiro, é nomeado comandante da 3ª expedição contra Canudos, para onde se dirige conduzindo um efetivo de 1.600 homens. Morre nos arredores de Belo Monte no dia 4 de março de 1897, vitimado por bala inimiga.

Profissional meticuloso e detalhista, Moreira César se destacou, não apenas como “homem da tropa de linha”, mas igualmente como estudioso da legislação militar e de seus regulamentos. Chegou a integrar comissão que elaborou os anteprojetos dos Códigos Criminal e de Processo Disciplinar, integrantes do Código de Justiça Militar de agosto de 1890, tendo sido, por isto, amplamente elogiado.

Henrique Duque Estrada de Macedo Soares, militar que esteve no front como tenente de artilharia e que depois escreveu valioso trabalho sobre o episódio, afirma que “para ele, [Moreira César] não existiam obstáculos materiais (...) Além das suas convicções, nada considerava: o que ordenasse cumpri-lo-iam sem tardança; ou por completo destruiria quaisquer contrariedades, embora para isso necessário se tornasse o sacrifício de alguém. O físico de mesquinha aparência, exótico e raquítico, enganava a quem o não conhecesse; extremamente nervoso, possuía uma força hercúlea, junto a rara agilidade (...) Jamais ele, alvo de tantas iras, objeto de ódios tão concentrados, se desviou do seu caminho, e uma vez traçado um plano, executava-o friamente, sem nunca volver arrependido”. (Soares, 1985, pp. 38-39).

Euclides da Cunha, outro que acompanhou de perto a contenda sertaneja, também deixaria registrado parecer sobre o célebre militar: “O aspecto reduzia-lhe a fama (...) A fisionomia inexpressiva e mórbida completava o porte desgracioso e exíguo. Nada, absolutamente, traía a energia surpreendedora e temibilidade rara de que dera provas, naquele rosto de convalescente sem uma linha original e firme: - pálido, alongado pela calva em que se expandia a fronte bombeada, e mal alumiada por olhar mortiço, velado de tristeza permanente (...) Naquela individualidade singular entrechocavam-se, antinômicas, tendências monstruosas e qualidades superiores, umas e outras no máximo grau de intensidade. Era tenaz, paciente, dedicado, leal, impávido, cruel, vingativo, ambicioso”. (Cunha, 1975, pp. 209-210).

Imbuído da seriedade com que sempre desempenhou o ofício militar e movido pelo ardor que nutria pela causa republicana, Moreira César, jamais se deixou curvar diante dos obstáculos. Nem mesmo quando percebeu que a sua própria vida estava em jogo. Durante o percurso para Canudos chegou a sofrer várias crises de epilepsia – mal que sempre o atormentou – ficando extremamente debilitado. Mesmo assim não desistiu da função de que fora investido e, com a determinação que lhe era peculiar, foi ao extremo, morrendo heroicamente em campo de batalha.


3 - Euclides da Cunha


Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu aos 20 de janeiro de 1866 numa fazenda modesta no município de Cantagalo, província do Rio de Janeiro. Aos três anos de idade fica órfão de mãe passando a viver com parentes. Em 1874, ingressa na escola iniciando, assim, o curso primário. Durante o curso secundário passa por vários estabelecimentos escolares chegando, em um destes, a ser aluno do positivista Benjamim Constant. Em 1885, desejando seguir a carreira de engenheiro, matricula-se na Escola Politécnica, mas não dispondo de recursos para cursá-la muda para a Escola Militar, de onde é expulso pouco tempo depois, por motivo de indisciplina. Casa-se com Ana Emília Ribeiro, filha do general republicano Frederico Sólon Ribeiro. Em 1890, matricula-se na Escola Superior de Guerra, onde conclui o curso de Artilheiro de Estado Maior e Engenharia, bacharelando-se em Matemática e em Ciências Físicas e Naturais. Trabalha na Estrada de Ferro Central do Brasil. Em 1897, é enviado pelo Jornal O Estado de São Paulo ao sertão da Bahia, com a finalidade de cobrir jornalisticamente a Guerra de Canudos. Em 1902, lança através da Editora Laemmert, do Rio de Janeiro, Os Sertões: Campanha de Canudos obra em que aborda de forma brilhante, o episódio que abalou o Brasil e a República. No ano seguinte, é eleito para uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Em 1904, viaja para o Alto Purus (região amazônica) chefiando missão demarcadora de fronteiras. No ano de 1906, toma posse na Casa de Machado de Assis sendo calorosamente saudado pelos colegas imortais. Morre em agosto de 1909, aos 43 anos de idade, em duelo com Dilermando de Assis, amante de sua esposa.

Em novembro de 1888, demonstrando fidelidade aos ideais republicanos, se insubordinou contra o ministro da Guerra do Império, quando da visita deste à Escola Militar, atirando no chão o próprio sabre. Tal fato lhe custou a prisão e, posteriormente, a expulsão da escola. Um ano depois, com a proclamação da República, se reintegrou ao Exército e foi promovido a tenente. Em 1896, divergiu de Floriano Peixoto quanto ao tratamento dado aos prisioneiros da Revolta da Armada (1893-1894) e se desligou definitivamente do Exército.

Euclides da Cunha foi responsável, entre outras coisas, pela descoberta de um Brasil que até então era desconhecido: o Brasil do interior. Ele trabalhou com a tese – a mesma da Escola Romântica - de que a construção da identidade nacional brasileira, que na sua visão estava ainda por acontecer, teria, inevitavelmente, que buscar seus fundamentos na profundidade do Brasil interiorano. Era lá que, segundo ele, se encontrava “o cerne da nossa nacionalidade”. Foi a partir desse princípio basilar, que Euclides orientou toda a sua obra, seja como engenheiro, seja como escritor.

Dedicado aos estudos das questões brasileiras, conforme pontifica Olímpio de Souza Andrade, Euclides valeu-se “da ciência para examinar sob vários aspectos a conformação do território brasileiro, seus ares, suas águas, sua flora, sua fauna, bem como a evolução do povo brasileiro, ressaltando conflitos entre estágios diversos de civilização. Mas principalmente valeu-se disso tudo, com engenho e arte, assim vendo o que os outros não viam, e dizendo-o numa linguagem clara e precisa, de rara beleza” (Andrade, sd. p. 9).

Esta é a tônica de toda produção literária de Euclides da Cunha, sendo que Os Sertões é a obra que melhor encarna a preocupação do autor. Dividido em três partes, a saber, a Terra, o Homem e a Luta, o livro faz ampla e profunda abordagem acerca da geografia do Nordeste e dos tipos humanos que povoam essa parte do Brasil, culminando com o conflito entre as forças legais e a gente de Antonio Conselheiro.


O crítico literário José Veríssimo, impressionado com a magnitude da obra em questão, assim se expressou: “O livro (...) do Sr. Euclides da Cunha, é ao mesmo tempo o livro de um homem de ciência, um geógrafo, um geólogo, um etnógrafo; de um homem de pensamento, um filósofo, um sociólogo, um historiador; e de um homem de sentimento, um poeta, um romancista que sabe ver e descrever, que vibra e sente tanto aos aspectos da natureza, como ao contato do homem (...)” (Veríssimo, 2003, p. 46). Trata-se da avaliação de quem realmente consegue penetrar o âmago da obra e dele subtrair o que há de mais substancial. Veríssimo (1857/1916), como Euclides, era um intelectual comprometido com as questões nacionais, principalmente aquelas relacionadas à Amazônia, chegando a produzir alguns trabalhos sobre o assunto. A crítica do autor de Cenas da Vida Amazônica, não só resume o conteúdo de Os Sertões, como também dá a dimensão exata do significado da obra e do autor.

Não é descabida, pois, a opinião dos que defendem que o filho ilustre de Cantagalo, exerceu papel fundador na cultura brasileira, a exemplo de Cervantes na Espanha, Goethe na Alemanha e Camões em Portugal.

Como homem de ciência, sintonizado com o que havia de mais avançado no âmbito da intelectualidade, e imbuído dos ideais do positivismo - corrente filosófica que defendia o primado da razão como único meio de construção da civilização e, por conseguinte, da ordem e do progresso dos povos - além de intransigente defensor da causa brasileira, Euclides da Cunha foi firme e enérgico na defesa das suas convicções mais profundas. Termina se decepcionando com a República – regime que ele sempre defendeu – quando percebe que esta não estava conseguindo responder à expectativa do povo brasileiro. E, decepcionado, se transforma em crítico ferrenho do modelo político inaugurado por Deodoro da Fonseca.


4 - Conclusão


Há, portanto, certa afinidade entre Antonio Conselheiro, Moreira César e Euclides da Cunha. Afinidade não em termos de princípios ou ideais, pois cada um tinha os seus. Falamos de afinidade em termos comportamentais, principalmente no que diz respeito à firmeza de postura com que todos levaram a cabo a defesa das suas convicções. O modo enérgico no agir, a seriedade no desempenho do ofício, a crença inabalável nos valores que cultivavam, a maneira entusiástica e desprendida com que perseguiam os seus objetivos..., são qualidades que, a nosso ver, se aplicam perfeitamente às três personalidades. E é exatamente nestes aspectos que, não obstante as suas profundas diferenças, o beato, o coronel e o escritor, terminam se cruzando, se aproximando e se identificando. Talvez seja este paradoxo, um dos motivos pelos quais, ainda hoje, os três continuam despertando a atenção e o interesse de todos quantos deles se aproximam.



José Gonçalves do Nascimento

(Membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim - Bahia)

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BIBLIOGRAFIA

ABREU, Regina. O Enigma de Os Sertões. Ed. Rocco LTDA, Rio de Janeiro, 1998.

ASSIS, Judith Ribeiro de /ANDRADE, Jéferson de. Ana de Assis, História de um Trágico Amor. 10ª ed. Irradiação Cultural, Rio de Janeiro, 1987.

ANDRADE, Olímpio de Souza. Os Sertões de Euclides da Cunha. Ediouro, Rio de Janeiro, s.d.

BENICIO, Manoel. O Rei dos Jagunços. Editora Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1997.

CALASANS, José. No Tempo de Antônio Conselheiro. Livraria Progresso Editora, Salvador, s.d.

CUNHA, Euclides da. Diário de uma Expedição. Comp. das Letras, São Paulo, 2000.

------------------ Os Sertões. 2ª ed. Editora Cultrix, São Paulo, 1975.

FONTES, Oleone Coelho. O treme-terra. 2ª ed. Vozes, Petrópolis, 1996.

GALVÃO, Walnice Oliveira e PERES, Fernando da Rocha. Breviário de Antonio Conselheiro. EDUFBA, Salvador, 2002.

MARCONDES, Ayrton César. Canudos, as Memórias de Frei João Evangelista de Monte Marciano. Editora Best Seller, São Paulo, 1997.

NOGUEIRA, Ataliba. Antônio Conselheiro e Canudos. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1978.

RABELLO, Sílvio. Euclides da Cunha. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1983.

SILVA, Rogério Souza. Antônio Conselheiro, a Fronteira entre a Civilização e a Barbárie. Ed. Annablume, São Paulo, 2001.

SOARES, Henrique Duque Estrada de Macedo. A Guerra de Canudos. 3ª ed. Philobiblion, Rio de Janeiro, 1985.

VERÍSSIMO, José. Os Sertões, Campanha de Canudos, por Euclides da Cunha. In Juízos Críticos, os Sertões e os olhares de sua época. Editora UNESP, São Paulo, 2003.

VILLA, Marco Antonio. Canudos – O Povo da Terra. Ática, São Paulo, 1995

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

EUCLIDES DA CUNHA: O POETA DOS SERTÕES


2009 é o ano em que o Brasil lembra os 100 anos da morte de Euclides da Cunha, uma das mais vigorosas inteligências da história do pensamento brasileiro.



Nascido em Cantagalo, Rio de Janeiro, em 1866, Euclides da Cunha formou-se como engenheiro pela Escola Superior de Guerra. Em 1897 esteve no sertão da Bahia onde, a serviço do Jornal O Estado de São Paulo, cobriu a Guerra de Canudos. Em 1902, lançou
Os Sertões – Campanha de Canudos, obra em que aborda de forma brilhante, a luta entre as forças do Exército e os adeptos de Antonio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro. No ano seguinte, já consagrado como escritor, foi eleito para uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Em 1904, a convite do Barão do Rio Branco, viajou ao Alto Purus, região amazônica, como chefe de uma missão demarcadora de fronteiras. Morreu no dia 15 de agosto de 1909, em duelo com Dilermando de Assis, amante de sua esposa, Ana, filha do general republicano Sólon Ribeiro.



Euclides da Cunha foi responsável, entre outras coisas, pela descoberta de um Brasil que até então era desconhecido: o Brasil do interior. Ele fez isso motivado pela convicção de que a construção da identidade nacional teria, de maneira inevitável, que buscar seus fundamentos na profundidade do Brasil interiorano.


Dedicado, como ninguém, ao estudo das questões brasileiras, conforme pontifica Olímpio de Souza Andrade, o escritor valeu-se “da ciência para examinar sob vários aspectos a conformação do território brasileiro, seus ares, suas águas, sua flora, sua fauna, bem como a evolução do povo brasileiro, ressaltando conflitos entre estágios diversos de civilização. Mas principalmente valeu-se disso tudo, com engenho e arte, assim vendo o que os outros não viam, e dizendo-o numa linguagem clara e precisa, de rara beleza".



Esta é a tônica de toda produção literária de Euclides da Cunha, sendo que
Os Sertões é a obra que melhor encarna a preocupação do autor. Dividido em três partes, a saber, a Terra, o Homem e a Luta, o livro faz ampla e profunda abordagem acerca da geografia do Nordeste e dos tipos humanos que povoam essa parte do Brasil, culminando com o conflito entre as forças legais e a gente de Antonio Conselheiro.



Como homem de ciência, sintonizado com o que havia de mais avançado no âmbito da intelectualidade, e imbuído dos ideais do positivismo, além de intransigente defensor da causa brasileira, Euclides da Cunha foi firme e enérgico na defesa das suas convicções mais profundas. Terminou se decepcionando com a República – regime que ele tanto defendeu – quando percebeu que esta não estava conseguindo responder à expectativa do povo brasileiro. E, decepcionado, acabou se transformando em crítico ferrenho do modelo político inaugurado por Deodoro da Fonseca.



José Gonçalves do Nascimento
(Membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim - Bahia)

sábado, 28 de novembro de 2009

BRASIL COM C


O C. Isto mesmo, o C.

O C Caminha Com o Brasil

desde os tempos da Conquista.

Confira-se:

Quem Comandou a Conquista

foi Cabral,

Quem Compôs a Célebre Carta

foi Caminha,

Quem Capitaneou a Colônia Brasil

foi a Coroa, a do Camões.

Caramba!

Convém ReCordar outros Cs:

os Cs Contestadores:

Conjurações, Confederações,

Contestado, Cabanos, Caldeirão,

Canudos, Cangaço,

Conselheiro, padre Cícero, frei Caneca, Corisco,

Carlos (Prestes) Carlos (Mariguela), Carlos (Lamarca).

Cáspita!

Há Cs, Contudo, que em nada Contribuíram

para a Condução Correta do Brasil.

Citemos os mais Conhecidos: Camilo Castelo (Branco),

Costa (e Silva) da mesma Corja;

Cólor, Cézar (PC), Cardoso (FHC)

Cardoso (Zélia), Carlos (ACM).

Cruz Credo!

A Ciranda Continua:

Com C, também se escreve Chacina.

É o Caso de Candelária, Carandiru,

Corumbiara, Caruaru, Carajás.

Cristo!

Com C se escreve também Corrupção,

Crise, Colapso, Capitalismo,

Contraste, Catástrofe, Carência.

Com C também se escreve Brasil,

Brasil de Cidadania.

José Gonçalves Nascimento

(Publicado, originalmente, no jornal o CAC de Monte Santo, setembro de 1996)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A REALIDADE DO NORDESTE - A seca não é a única responsável pelos problemas da região


Aprendeu-se a ter o Nordeste como sinônimo de miséria e atraso. Os que assim pensam, logo apontam a causa do problema: a seca. Dessa forma, acredita-se que toda desgraça da região é decorrente da falta de chuva. De fato, o Nordeste tem sido há séculos, palco de grandes e inúmeras estiagens catastróficas. Não se pode falar do Nordeste omitindo essa realidade histórica.


Com efeito, cada seca é, para o nordestino, uma experiência de sofrimento e inquietação. Nas circunstâncias políticas e sociais em que se encontra a região, não podemos ignorar o fato de que a seca realmente leva o homem à miséria. Mas, será que a seca é a única responsável pelo problema do Nordeste? Tendo em vista que este é um fator climático peculiar a essa região, por que ainda não se tomaram medidas que fossem capazes de conter a sua força destruidora? A verdade é que a seca interessa a alguém. Daí a necessidade de mantê-la. Há aqueles que securlamente tiram proveito da seca, engrossando suas fortunas em detrimento do bem comum. São os donos do poder político e fundiário. Os mantenedores de um sistema que consegue elevar-se às custa da miséria do povo.


No Nordeste, os números da miséria assumem proporções realmente trágicas. As estiagens que com freqüência se abatem sobre a região pioram ainda mais esse quadro. Falar da miséria do nordestino significa falar de fome, sede, falta de terra e teto, desemprego, analfabetismo, doenças... São essas as mazelas do Nordeste. A fome é um dado real que mata. E mata sutilmente, sem poupar ninguém. Morrem crianças e também adultos. Basta dizer que 66% dos nordestinos são desnutridos. Uma das consequencias dessa carência alimentar é o fenômeno “homem pigmeu”. O homem do Nordeste tem uma estatura cada vez mais reduzida. Para se ter uma ideia, uma criança nordestina de 5 anos mede pouco mais de 90 cm. Em São Paulo, nessa mesma idade, a criança mede 115 cm. O fato é que o nordestino nasce e se desenvolve dentro de um quadro de miséria absoluta. É muito comum ver, na região, bebês sendo alimentados com água e açúcar, para não falar das substâncias ainda mais pobres.


Em Juazeiro da Bahia, recentemente, chegou-se ao extremo de uma mãe ter que fazer “sopa de papelão” para os filhos que, chorando, pediam comida. “Não há coisa pior do que ver um filho chorar de fome até dormir e não ter nada para oferecer-lhe” declarou essa mãe ao jornal “ A Tarde”, de Salvador. Esse dado é apenas o retrato de uma situação real de milhões de nordestinos. É apenas um dos números da miséria.


Renda per capita indica miséria absoluta


A renda per capita do nordestino é de 25 dólares por ano. Para a Organização de Alimentação e Agricultura (FAO), renda abaixo de 30 dólares indica miséria absoluta. Mas, nem todos perdem com a miséria. Há quem dela se beneficie. É em cima da miséria do povo que se estrutura no Nordeste o sistema político e econômico.


Não se pode culpar a seca como a única responsável pelo problema no Nordeste. Vale considerar que o Maranhão chuvoso é ainda mais miserável do que o Ceará seco. O homem da Zona da Mata é ainda mais pobre que o sertanejo do semi-árido. A seca é, portanto, apenas um fator agravante utilizado pelo sistema dominante para justificar a miséria. Popularmente já se diz que “o problema do Nordeste não é a seca, mas a cerca”. Cerca não só no sentido fundiário, mas também no sentido político e econômico.


Reforma Agrária


De fato, o grande fator responsável pela miséria do Nordeste é a concentração de terras, riquezas e, consequentemente, de poder. A maior parte das terras da região é controlada por políticos e empresários. Assim, privado da terra e de outras fontes de renda, o homem só tem a sofrer. Faltando-lhe esses recursos, evidentemente lhe faltarão a casa, o emprego, o pão, a saúde e até mesmo a dignidade. Os serviços do Estado deixam de beneficiar a comunidade para favorecer políticos e fazendeiros. Enquanto milhares de nordestinos são afetados pela seca, o deputado Inocêncio de Oliveira, e tantos outros, têm as suas propriedades abastecidas pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS). Fundando em 1909, o DNOCS perfurou até hoje ( 1993) 25 mil poços artesianos. Destes, 18 mil foram destinados a particulares. Dos 800 açudes construídos, apenas 300 pertencem à coletividade.


Já que o problema do Nordeste decorre, sobretudo, da concentração de terras, a saída esta na reforma agrária. O Nordeste precisa de uma reforma agrária que não pare apenas num mero loteamento de terras, mas que partindo daí avance no campo da produção e no campo social. O homem precisa de terras e de condições para explorá-las. Para tanto, é necessário que o Estado tenha interesse em investir. O Nordeste é viável. O que falta é vontade política da parte dos governantes, no sentido de solucionar os problemas da região e torná-la mais próspera. Então, cabe ao povo participar. A reforma agrária será uma conquista e não um presente. Será fruto da luta do povo.



José Gonçalves do Nascimento


(Artigo publicado, originalmente, pelo Jornal de Opinião, Belo Horizonte, edição de 9-15 de agosto de 1993 e pela Revista Eclesiástica Brasileira – REB, Fasc. 212 – Dezembro – 1993, Petrópolis – Rio de Janeiro, pp. 943-944)

NOVA ERA: UMA IDEIA PERIGOSA


Prestes à virada do século e já na alvorada do terceiro milênio, quando nos preparamos para a celebração dos dois mil anos do nascimento de Nosso Senhor, vemo-nos diante de uma filosofia que, infiltrando-se sutilmente, afronta nossos valores mais sublimes, enquanto propõe “novos” conceitos e “novos comportamentos. Trata-se da Nova Era, movimento de cunho esoterista fundado nos Estados Unidos pela vidente russa Helena Blavatsky.

O termo Nova Era exprime a ideia de contraposição à Era Cristã. Para o movimento, a Era cristã, “era de peixe”, chega ao seu fim e deverá ser substituída pela era de aquário, a Nova Era.

A nova doutrina nega a identidade de Jesus como Messias, considerando-o apenas uns dos enviados de Maitreya, o verdadeiro “messias” a quem todos esperam. Deus não é pessoa nem criador, mas uma “energia cósmica”. O homem não precisa da salvação de Deus, pois também é divino. Basta-lhe entrar em harmonia com o cosmos e se igualará a Deus. Na busca dessa harmonia incluem-se, naturalmente, práticas como o lesbianismo, o homossexualismo, a troca de pares, entre outros.

Entre os propósitos da Nova Era destacam-se: eliminar as religiões, especialmente a cristã e fundar uma única religião; suprimir a instituição familiar; implantar um único sistema monetário; criar um único governo mundial.

São bastante evidentes as conotações totalitaristas do movimento. É curioso que a sua propagação esteja ocorrendo, justamente, no momento em que ressurgem, no mundo inteiro, as tendências nazi-fascistas. Por sinal, um dos símbolos da Nova Era é a cruz suástica que, a partir da 2ª guerra mundial, se tornou a marca no terror de Adolf Hitler, o homem que, na sua desvairada pretensão de conquistar o mundo, fez desencadear a guerra que levou ao holocausto mais de 50 milhões de seres humanos.

A Nova Era, à semelhança da doutrina hitleana, prega a instituição de um governo universal, uma espécie de ditadura mundial. Conforme apregoa, o planeta deverá ser dominado por um “diretório mundial”, segundo os critérios de um só líder. Os que não quiseram se submeter à “nova ordem” serão condenados ao extermínio.

Embora de forma discreta, a nova doutrina vem sendo amplamente divulgada. É sabido do empenho de várias organizações e grupos econômicos no apoio e divulgação da tal “nova”. Os veículos mais adequados têm sido, naturalmente, a mídia e a “onda” do consumismo. A presa mais fácil tem sido o jovem.

Vivemos um momento em que o mundo inteiro se volta em defesa da dignidade, da ética, da democracia, da eliminação dos preconceitos e da reafirmação dos valores morais e familiares.

A família, ao contrário do que defende a Nova Era, não é uma instituição antiquada. Como “Núcleo natural e fundamental da sociedade”, no dizer da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a família é sempre atual e indispensável. “Só ela, ensina João Paulo II, garante a continuidade e o futuro da sociedade”. O berço familiar é, também, o lugar onde o homem e a mulher adquirem a sua identidade e constroem a sua formação.

Acima de tudo, está a chama do Evangelho que se mantém acesa. Jesus continua o Nosso Senhor e Salvador. Aquele de “Ontem, Hoje e Sempre” (Hb.13,8).

José Gonçalves do Nascimento

(Artigo publicado, originalmente, no jornal Diário de Itabuna, em 31 de março de 1994, no jornal A TARDE de Salvador, em 24 de maio de 1994 e no jornal Diário de Ilhéus, em 27 de abril de 1994)

O SANTO NATAL


O Santo Natal, uma das festas maiores do mundo cristão, começou a ser celebrado logo cedo. Um calendário romano do ano 534, já dava conta da existência dessa festa no dia 25 de dezembro, dia do “Sol Invictus”, uma das tantas manifestações “pagãs” superadas pelo cristianismo. O costume foi se difundindo e a festa que, no início, era celebrada só em Roma, ganha o mundo, atravessa os séculos e chega ao nosso tempo, nos cobrindo de luz e nos cumulando de vida.

A celebração do Natal nos conduz àquele evento único no qual Deus se fez conhecer, tornando-se carne e habitando entre nós (Cf. Jo 1,14). Tal evento, nós o chamamos de revelação divina. Deus na sua infinita bondade quis comunicar a sua vida aos homens. É o que expressa o Concílio Vaticano II:”Aprouve a Deus, em sua sabedoria, revelar-se a si mesmo e tornar conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual os homens por intermédio de Cristo, verbo feito carne, no seu Espírito Santo, têm acesso ao pai e se tornam participantes da natureza divina” (Dei Verbum 2).

Por amor a nós, Deus, que é todo poderoso, se faz pequeno, chegando mesmo a se anular. “O todo entra no fragmento”, o imutável se torna efêmero, a própria eternidade entra no tempo e se submete aos limites impostos por este.

Parece por demais paradoxal, mas tudo isto deve ser visto a partir do projeto da salvação divina, projeto este, que se concluirá com a paixão, morte e ressurreição do Senhor.

Neste sentido, o Natal é já o começo da redenção salvifica, uma vez que o encontro do divino com o humano devolve ao homem e à mulher a sua dignidade e os introduz em uma vida nova e plena.

O Natal tem também a sua dimensão cósmica. Na encarnação Cristo reintegra o universo inteiro. Assim reza o segundo prefácio do Natal do Senhor, conforme o Missal Romano: “Ele, no mistério do Natal que celebramos invisível na sua divindade, tornou-se visível em nossa carne. Gerado antes do tempo, entrou na história da humanidade para erguer o mundo decaído. Restaurando a integridade do universo, introduz no reino dos céus, o homem redimido”.

É necessário, pois, abrir o coração para acolher esse dom imenso, fruto do amor misericordioso do Pai. Essa será a nossa resposta. Assim estaremos fazendo com que o espírito do Natal penetre o mundo e o transforme.

O Natal interpela a nossa fé e a nossa consciência. Ora, como é possível vivenciar algo tão profundo sendo indiferente a tantos problemas que, a nossa volta, atropelam o plano de Deus?

Celebrar o nascimento de Deus que se faz história é comprometer-se com essa mesma história procurando devolver a ela a sua dignidade. Desta forma, estaremos favorecendo cada vez mais o “encontro admirável” entre o céu e a terra.

José Gonçalves do Nascimento

(Presidente da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim - Bahia)

domingo, 22 de novembro de 2009

MENSAGEM A UM CASAL

Um dia, na estrada da vida, quis Deus que nos encontrássemos.

E eis que nesse encontro um sentimento maior invadiu-nos a alma e dominou nossos corações.

Foi assim que começou a nossa história de amor.

Uma história aparentemente comum, mas muito especial.

Especial, em primeiro lugar, porque foi Deus que nos escolheu um para o outro, chamando-nos pelo nome como aquele pai que busca o melhor para os seus;

depois, porque somos únicos, irrepetíveis (cada um com sua trajetória, com sua história de vida, com seus ideais...);

finalmente, porque nosso amor também é único, vivido unicamente por nós dois.

Eis a nossa vocação,

eis a nossa resposta,

eis a nossa missão:

ser um para o outro, carne da mesma carne, num só propósito...

Isto requer que a cada dia reguemos em nós a planta do amor, cuja semente lançou-se um dia no terreno fértil da nossa existência;

que reavivemos a cada instante da nossa vida, a chama desse sentimento sublime que num determinado momento passou a arder nos nossos corações, lançando-nos um ao outro de forma indescritível.

Temos ciência do quanto é difícil viver a dois.

Todavia, independente de ser a dois ou não, viver é sempre um desafio.

A nossa grandeza consiste em saber encarar os desafios da vida, equacionando cada situação conforme esta se apresente.

Disto cuidará o bom senso e do bom senso cuidará o amor.

O amor é o fundamento, a pedra angular, a bússola que nos orienta em direção das melhores rotas;

o mesmo amor que nas palavras do apóstolo

“É paciente, não guarda rancor, e tudo espera”.

Esse é o amor que ora se sela diante deste altar, e que nos unirá para sempre.




José Gonçalves do Nascimento