O Retrato pintado pelo tribuno baiano, a partir do “herói” “acocorado” de Urupês, ainda iria se impor por muito tempo. A política do café com leite que marcou a história brasileira durante toda aquela primeira quadra do século XX, e que acentuou de forma substancial o quadro da pobreza no Brasil, ao privilegiar as elites monocultoras, principalmente aquelas ligadas ao cultivo do café, foi substituída pela chamada "Era Vargas". O longo período em que Getúlio Vargas esteve no exercício do poder, incluindo aí o Estado Novo, foi marcado por algumas conquistas importantes, principalmente no campo das leis trabalhistas, mas nada que revertesse a situação de pobreza da grande massa do povo brasileiro. Os “cinquenta anos em cinco” de JK, preocupados, quase que exclusivamente, com a construção de Brasília e com o desenvolvimento do setor industrial, sobretudo o automobilístico, também em nada contribuiu para a ascensão das classes pobres. O período das chamadas “reformas de base”, inaugurado por Jango, começou a voltar a atenção para as camadas menos privilegiadas, mas acabou não vigorando. Terminou substituído pelo regime de exceção. Neste período de vinte anos em que os militares reinaram absolutos, além das torturas e dos assassinatos perpetrados pelo Estado contra todos aqueles que não se enquadravam ao sistema, o Brasil conheceu também o “milagre econômico” que mergulhou o país numa dívida externa sem precedente e aprofundou, de maneira drástica, a situação da pobreza. É desta época, o ministro que apregoava: “primeiro deixar o bolo crescer para depois repartir”. O bolo cresceu e foi repartido, sim, mas só entre eles.
Veio a redemocratização do país, e o povo na mesma situação. Primeiro, o Sarney com os seus planos cruzados, todos fracassados, e uma inflação que abeirou os 3.000%. Em seguida, o Collor que chegou ao poder cercado de enormes expectativas, principalmente por parte dos “descamisados”, o público alvo do seu discurso de campanha, mas que terminou frustrando todas as esperanças. No meio do mandato, após uma política econômica fracassada, e sucumbido num mar de corrupção, o antigo “caçador de marajás” das Alagoas, terminou sofrendo impeachment. O governo Itamar, apesar de medíocre, gerou o Plano Real, sem dúvida, uma das mais acertadas tentativas de estabilidade econômica da história da república brasileira. Nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso muito pouco se fez pelos pobres. Voltado para uma política econômica extremamente entreguista, o seu governo foi responsável por uma das economias mais desastrosas da história do Brasil.
Por fim o governo do presidente Lula que, com o Bolsa Família, inicia, finalmente, um processo de inclusão econômica e social das classes menos favorecidas da sociedade. Nunca, antes, o Brasil conhecera um programa de tamanha amplitude. Amplitude traduzida não apenas no número de pessoas beneficiadas, mas também no leque de ações desenvolvidas, a exemplo do Projovem, dos projetos de Inclusão Produtiva, das incubadoras de pequenas empresas, dos restaurantes populares, do programa de cisternas, entre outros. Graças ao programa, de 2003 até agora, 14 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema para melhores condições de vida. Estudos mostram que o benefício monetário oferecido pelo Bolsa Família, chega a proporcionar um aumento de até 60% na renda das famílias pobres. Isso permite que cerca de 50% dessas famílias saiam do grupo de pobreza extrema. O Resultado positivo do Bolsa Família é atestado pelas mais tarimbadas autoridades da área das ciências sociais e econômicas. Fernando Abrucio, articulista da revista Época, trouxe a lume, em 28 de novembro de 2008, uma série de estudos empreendidos por cientistas brasileiros, de diversas universidades do país, como Unicamp, USP e UFMG, mostrando o impacto positivo do Programa sobre a economia, acentuando, entre outros aspectos, o crescimento do PIB per capta dos municípios e o aumento do poder aquisitivo das classes mais pobres.
Embora não consiga extirpar pela raiz o mal crônico da apartação social que, há séculos, priva a grande maioria da população dos seus direitos mais elementares, o Bolsa Família ostenta o mérito de permitir que, pela primeira vez, em 500 anos, os filhos desse país possam participar, ainda que em parte, da distribuição das riquezas aqui produzidas. O tal bolo começa a ser repartido.
José Gonçalves do Nascimento
Senhor do Bonfim - Bahia
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