Ao vasculhar os anais da história bonfinense nos deparamos com informações altamente valiosas, acerca da participação de Senhor do Bonfim nos fatos relativos ao episódio de Canudos.
A primeira delas, quem nos traz é o ilustre escritor Nertan Macedo, numa publicação dos anos sessenta, e se refere a dois irmãos cearenses, Antônio e Honório Assunção – os irmãos Vilanova, como ficariam conhecidos mais tarde. Os dois foram tangidos do Ceará pela terrível seca de 1877, vindo parar na então Vila Nova da Rainha, donde o cognome Vilanova. Antônio era comerciante; Honório, mais moço, era seleiro. Estabelecidos na nova terra, aqui fizeram vida e constituíram família.
Certa feita, o cônego Pedro Hugo chamou Antônio Vilanova e disse: “Sei que você gosta de mascateação. Vou fazer uma desobriga e você vai comigo. Poderá vender muito pelo caminho.” E se foram, ambos, caatinga a dentro. Em Uauá, última etapa da desobriga, Antônio deixa o cura e prossegue v

Não demorou muito, e os irmãos Vilanova se tornaram detentores do maior estabelecimento comercial de Canudos, o que lhes conferiu prestígio e os fez participar do grupo das pessoas mais influentes do séquito conselheirista. Antes de findar a guerra, e com o consentimento de Antônio Conselheiro, os dois voltariam para o Ceará, levando boa parte de suas fortunas.
Outras informações dignas de nota dizem respeito à fase da guerra, propriamente dita, e têm como responsável o escritor bonfinense Lourenço Pereira da Silva, no livro Memória Histórica e Geográfica da Comarca do Bonfim, de 1915. Contemporâneo dos acontecimentos que abalaram o sertão da Bahia, no final do século XIX, Silva nos oferece informações muito valiosas, no que se refere à participação de Senhor do Bonfim na guerra de Canudos.
Vejamos os fatos.
No início de março de 1897, após o fracasso da 3ª expedição, comandada pelo coronel Moreira César, o Conselho Municipal, sob a liderança de João Martins Fontes, emitiu a seguinte nota de pesar: “O Conselho Municipal da cidade do Bonfim, vivamente impressionado pelo insucesso da expedição enviada pelo governo federal para destroçar os fanáticos de Canudos, capitaneados por Antônio Conselheiro (...), deixa consignada aqui a expressão de seu profundo pesar por tão lamentável acontecimento”. O mesmo Conselho votou, no final de março, um projeto do intendente Antônio Laurindo da Silva, que dava a alguns logradouros de Bonfim, nomes de oficiais mortos durante o enfrentamento da 3ª expedição. Pelo projeto, as antigas praças do Campo do Gado e do Reservatório passaram a se chamar Coronel Moreira César, e Capitão Salomão, respectivamente. Já o Coronel Tamarindo batizou uma rua que surgia atrás da praça Dr. José Gonçalves. A essas manifestações seguiram-se, ainda, duas missas de trigésimo dia, que a municipalidade mandou celebrar, em sufrágio dos mortos.
Com a chegada da 4ª expedição ao teatro da luta, estreita-se ainda mais a relação de Senhor do Bonfim com a guerra de Canudos. É revelador neste sentido, o fato da antiga Vila Nova da Rainha ter se transformado no principal centro de fornecimento de víveres para as forças legais, “subindo a cerca de dez mil, o número de bovinos fornecidos no espaço de sete meses”.
Concomitante a isso, a filarmônica União e Recreio arrecadou e entregou quase três contos de réis ao Comitê Patriótico da Ba

Finda a guerra, a cidade foi palco de várias manifestações, em comemoração à vitória das forças expedicionárias. Ao som da União e Recreio, diversas autoridades e famílias de Bonfim se dirigiram à cidade de Queimadas, em trem especial, a fim de aplaudir de perto o comandante das forças em operação, general Artur Oscar Guimarães.
Não menos calorosa, foi a recepção que a população bonfinense fez ao coronel José Siqueira de Menezes, que esteve em Senhor do Bonfim poucos dias após o término da guerra. Meneses, um dos militares que mais se destacaram no campo de batalha, foi recepcionado no antigo Hotel Loureiro, onde participou de jantar oferecido em sua homenagem.
Portanto, Senhor do Bonfim teve participação relevante nos fatos de Canudos. Mais ainda: sua participação foi decisiva para que tais fatos tivessem o desfecho que tiveram.
José Gonçalves do Nascimento
(Presidente da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim - ACLASB)
Alguém tem esse livro:memória histórica e geografica da comarca do bonfim Lourenço Pereira da Silva?
ResponderExcluirEu tenho
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