Aprendeu-se a ter o Nordeste como sinônimo de miséria e atraso. Os que assim pensam, logo apontam a causa do problema: a seca. Dessa forma, acredita-se que toda desgraça da região é decorrente da falta de chuva. De fato, o Nordeste tem sido há séculos, palco de grandes e inúmeras estiagens catastróficas. Não se pode falar do Nordeste omitindo essa realidade histórica.
Com efeito, cada seca é, para o nordestino, uma experiência de sofrimento e inquietação. Nas circunstâncias políticas e sociais em que se encontra a região, não podemos ignorar o fato de que a seca realmente leva o homem à miséria. Mas, será que a seca é a única responsável pelo problema do Nordeste? Tendo em vista que este é um fator climático peculiar a essa região, por que ainda não se tomaram medidas que fossem capazes de conter a sua força destruidora? A verdade é que a seca interessa a alguém. Daí a necessidade de mantê-la. Há aqueles que securlamente tiram proveito da seca, engrossando suas fortunas em detrimento do bem comum. São os donos do poder político e fundiário. Os mantenedores de um sistema que consegue elevar-se às custa da miséria do povo.
No Nordeste, os números da miséria assumem proporções realmente trágicas. As estiagens que com freqüência se abatem sobre a região pioram ainda mais esse quadro. Falar da miséria do nordestino significa falar de fome, sede, falta de terra e teto, desemprego, analfabetismo, doenças... São essas as mazelas do Nordeste. A fome é um dado real que mata. E mata sutilmente, sem poupar ninguém. Morrem crianças e também adultos. Basta dizer que 66% dos nordestinos são desnutridos. Uma das consequencias dessa carência alimentar é o fenômeno “homem pigmeu”. O homem do Nordeste tem uma estatura cada vez mais reduzida. Para se ter uma ideia, uma criança nordestina de 5 anos mede pouco mais de
Em Juazeiro da Bahia, recentemente, chegou-se ao extremo de uma mãe ter que fazer “sopa de papelão” para os filhos que, chorando, pediam comida. “Não há coisa pior do que ver um filho chorar de fome até dormir e não ter nada para oferecer-lhe” declarou essa mãe ao jornal “ A Tarde”, de Salvador. Esse dado é apenas o retrato de uma situação real de milhões de nordestinos. É apenas um dos números da miséria.
Renda per capita indica miséria absoluta
A renda per capita do nordestino é de 25 dólares por ano. Para a Organização de Alimentação e Agricultura (FAO), renda abaixo de 30 dólares indica miséria absoluta. Mas, nem todos perdem com a miséria. Há quem dela se beneficie. É em cima da miséria do povo que se estrutura no Nordeste o sistema político e econômico.
Não se pode culpar a seca como a única responsável pelo problema no Nordeste. Vale considerar que o Maranhão chuvoso é ainda mais miserável do que o Ceará seco. O homem da Zona da Mata é ainda mais pobre que o sertanejo do semi-árido. A seca é, portanto, apenas um fator agravante utilizado pelo sistema dominante para justificar a miséria. Popularmente já se diz que “o problema do Nordeste não é a seca, mas a cerca”. Cerca não só no sentido fundiário, mas também no sentido político e econômico.
Reforma Agrária
De fato, o grande fator responsável pela miséria do Nordeste é a concentração de terras, riquezas e, consequentemente, de poder. A maior parte das terras da região é controlada por políticos e empresários. Assim, privado da terra e de outras fontes de renda, o homem só tem a sofrer. Faltando-lhe esses recursos, evidentemente lhe faltarão a casa, o emprego, o pão, a saúde e até mesmo a dignidade. Os serviços do Estado deixam de beneficiar a comunidade para favorecer políticos e fazendeiros. Enquanto milhares de nordestinos são afetados pela seca, o deputado Inocêncio de Oliveira, e tantos outros, têm as suas propriedades abastecidas pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS). Fundando em 1909, o DNOCS perfurou até hoje ( 1993) 25 mil poços artesianos. Destes, 18 mil foram destinados a particulares. Dos 800 açudes construídos, apenas 300 pertencem à coletividade.
Já que o problema do Nordeste decorre, sobretudo, da concentração de terras, a saída esta na reforma agrária. O Nordeste precisa de uma reforma agrária que não pare apenas num mero loteamento de terras, mas que partindo daí avance no campo da produção e no campo social. O homem precisa de terras e de condições para explorá-las. Para tanto, é necessário que o Estado tenha interesse
José Gonçalves do Nascimento
(Artigo publicado, originalmente, pelo Jornal de Opinião, Belo Horizonte, edição de 9-15 de agosto de 1993 e pela Revista Eclesiástica Brasileira – REB, Fasc. 212 – Dezembro – 1993, Petrópolis – Rio de Janeiro, pp. 943-944)
Muito bom, essa é mesmo a grande realidade, eu nunca tinha parado para pensar que realmente tem alguem que possua a necessidade de mante-la.
ResponderExcluirParabéns pelo post.
Bom eu adorei,foi muito bom essa pequena biografia
ResponderExcluirpois minha filha leu e compreendeu,e eu achei bem legal.
Parabéns pelo post!
Obrigado , Abraços...
assinado:Amanda Morais ♥
Muito bom, isso mostra tudo. Parabéns
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