segunda-feira, 30 de novembro de 2009

EUCLIDES DA CUNHA: O POETA DOS SERTÕES


2009 é o ano em que o Brasil lembra os 100 anos da morte de Euclides da Cunha, uma das mais vigorosas inteligências da história do pensamento brasileiro.



Nascido em Cantagalo, Rio de Janeiro, em 1866, Euclides da Cunha formou-se como engenheiro pela Escola Superior de Guerra. Em 1897 esteve no sertão da Bahia onde, a serviço do Jornal O Estado de São Paulo, cobriu a Guerra de Canudos. Em 1902, lançou
Os Sertões – Campanha de Canudos, obra em que aborda de forma brilhante, a luta entre as forças do Exército e os adeptos de Antonio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro. No ano seguinte, já consagrado como escritor, foi eleito para uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Em 1904, a convite do Barão do Rio Branco, viajou ao Alto Purus, região amazônica, como chefe de uma missão demarcadora de fronteiras. Morreu no dia 15 de agosto de 1909, em duelo com Dilermando de Assis, amante de sua esposa, Ana, filha do general republicano Sólon Ribeiro.



Euclides da Cunha foi responsável, entre outras coisas, pela descoberta de um Brasil que até então era desconhecido: o Brasil do interior. Ele fez isso motivado pela convicção de que a construção da identidade nacional teria, de maneira inevitável, que buscar seus fundamentos na profundidade do Brasil interiorano.


Dedicado, como ninguém, ao estudo das questões brasileiras, conforme pontifica Olímpio de Souza Andrade, o escritor valeu-se “da ciência para examinar sob vários aspectos a conformação do território brasileiro, seus ares, suas águas, sua flora, sua fauna, bem como a evolução do povo brasileiro, ressaltando conflitos entre estágios diversos de civilização. Mas principalmente valeu-se disso tudo, com engenho e arte, assim vendo o que os outros não viam, e dizendo-o numa linguagem clara e precisa, de rara beleza".



Esta é a tônica de toda produção literária de Euclides da Cunha, sendo que
Os Sertões é a obra que melhor encarna a preocupação do autor. Dividido em três partes, a saber, a Terra, o Homem e a Luta, o livro faz ampla e profunda abordagem acerca da geografia do Nordeste e dos tipos humanos que povoam essa parte do Brasil, culminando com o conflito entre as forças legais e a gente de Antonio Conselheiro.



Como homem de ciência, sintonizado com o que havia de mais avançado no âmbito da intelectualidade, e imbuído dos ideais do positivismo, além de intransigente defensor da causa brasileira, Euclides da Cunha foi firme e enérgico na defesa das suas convicções mais profundas. Terminou se decepcionando com a República – regime que ele tanto defendeu – quando percebeu que esta não estava conseguindo responder à expectativa do povo brasileiro. E, decepcionado, acabou se transformando em crítico ferrenho do modelo político inaugurado por Deodoro da Fonseca.



José Gonçalves do Nascimento
(Membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Senhor do Bonfim - Bahia)

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