domingo, 22 de novembro de 2009

O ANO LITÚRGICO


Assim como temos o ano letivo, o ano comercial, o ano jurídico e o ano civil, temos também o ano eclesiástico ou ano litúrgico.

O ano litúrgico começa no primeiro domingo do Advento e termina na festa de Cristo Rei, ou seja, no domingo anterior ao tempo de Advento.

Nos primórdios da Igreja o ano eclesiástico iniciava no dia de Páscoa e se fundamentava na ideia de que a Ressurreição de Cristo assinala o começo de uma nova criação. Só a partir do século VIII, depois de uma longa história de amadurecimento da liturgia, é que o ano litúrgico ganha a atual estrutura.

O ano litúrgico é a moldura, diríamos assim, dentro da qual se celebram todos os eventos relacionados ao mistério da salvação atuado por Cristo Jesus, destacando-se, aí, a celebração do mistério eucarístico. Em síntese, é a celebração-atuação do mistério de Cristo no tempo.

O componente tempo assume aqui papel relevante, já que para o cristão o tempo é a categoria dentro da qual se atua a salvação. Nesse sentido se expressa o Concílio Vaticano II: “No decorrer do ano (a Igreja) revela todo o Mistério de Cristo desde a Encarnação e Natividade até a Ascensão, o dia de Pentecostes e a expectativa da feliz esperança e vinda do Senhor. Relembrando assim os mistérios da Redenção, franqueia aos fiéis as riquezas do poder santificador e dos mistérios de seu Senhor, de tal sorte que, de alguma forma, os torna presentes em todo o tempo, para que os fiéis entrem em contato com eles e sejam repletos da salvação” (Sacrosantum Concilium, 102).

A liturgia, desta forma, prolonga e atua no tempo, através da celebração, as riquezas salvíficas de Nosso Senhor. Por isso o ano litúrgico não é uma série de ideias ou uma sucessão de festas mais ou menos importantes. Ele é, acima de tudo, uma pessoa: Jesus Cristo. A salvação que ele realizou “principalmente pelo Mistério Pascal de sua Sagrada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão” (idem,5), nos é comunicado por meio das várias ações sacramentais que caracterizam o calendário litúrgico. A história da salvação que continua no hoje da Igreja constitui, portanto, a base do ano litúrgico.

Neste sentido, cada ano litúrgico é sempre “um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 19), uma vez que ele antecipa as maravilhas do reino de Deus, transformando o tempo em oportunidade de santificação.

Aproveitemos, portanto, o ano litúrgico como dádiva do Senhor e procuremos dignificá-lo com a nossa participação e com o nosso testemunho de fé.


José Gonçalves do Nascimento

(Artigo publicado, originalmente, no Jornal A Voz da Tapera, Senhor do Bonfim, 1999)

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